Número de transplantes realizados caiu 52% no primeiro semestre do ano
A atividade cirúrgica programada foi suspensa devido à pandemia da covid-19 e a retoma da atividade será lenta, segundo a presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação
Nos meses de março, abril, maio e junho realizaram-se menos 52% de transplantes em relação ao mesmo período de 2019, o que representa uma redução de 307 para 147 transplantes. De acordo com o Jornal de Notícias, a sinalização de potenciais dadores irá demorar a voltar ao que era, fazendo com que haja doentes “a perder oportunidades únicas” de substituírem um orgão em falência.
De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), a doação de orgãos sofreu uma diminuição de 55% nos dadores falecidos (121 dadores em 2019 contra 59 em 2020), de 78% nos dadores vivos e de 100% nos dadores sequenciais.
A atividade cirúrgica programada foi suspensa durante a pandemia da Covid-19, tendo-se apenas realizado os transplantes urgentes. De janeiro a abril foram realizados 98 transplantes renais, em comparação com 127 transplantes realizados no mesmo período de 2019. Já os transplantes de rim a partir de dador vivo desceram para 12, entre janeiro e abril, contra 20 realizados durante o mesmo período de 2019.
Retoma lenta, doentes “perdem anos de vida”
Em declarações ao JN, a presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, Susana Sampaio, refere que os números do primeiro quadrimestre só não piores “porque janeiro e fevereiro correu muito bem”. A médica nefrologista refere ainda que o regresso à normalidade na área da transplantação está a ser lento e que os doentes estão a perder meses e até anos de vida.
As razões são várias, segundo a Drª. Susana Sampaio, que sublinha o facto de “até há bem pouco tempo”, as unidades de Cuidados Intensivos estarem “cheias de doentes covid-19”. Por outro lado, os doentes continuam muito preocupados e “evitam os cuidados de saúde e há muitos profissionais que ainda estão direcionados para a infeção covid-19.”
O adiamento de vários transplantes ao longo dos últimos meses fez com que muitos doentes “possam ter perdido oportunidades únicas” de transplante e muitos tiveram de prolongar outro tipo de tratamentos, como por exemplo, os doentes que tiveram de prolongar a diálise. Segundo a presidente da SPT estes doentes poderão vir a ter um maior risco de doença cardiovascular.
A médica nefrologista diz-se “preocupada” com a altura do inverno, com a sobrecarga dos hospitais e teme que a área da transplantação sofra um novo impacto. É preciso ter atenção “para que não haja uma diminuição tão grande dos doentes”, frisa a médica.
AR/JN