Nevralgia pós-herpética. Abordagem Clínica, tratamento e prevenção
Neurologista no Hospital Garcia d’Orta – ULS Almada-Seixal

Nevralgia pós-herpética. Abordagem Clínica, tratamento e prevenção

A nevralgia pós-herpética (NPH) é uma complicação debilitante do herpes zóster, caracterizada por dor persistente em um dermátomo previamente afetado, que se estende por mais de 3 meses após o desaparecimento do rash cutâneo. Os principais fatores de risco incluem idade superior a 60 anos, dor intensa ou incapacitante durante o episódio agudo e a presença de lesões cutâneas exuberantes e extensas.

Clinicamente, a NPH manifesta-se por dor neuropática, frequentemente descrita como sensação de queimação, prurido, ou dor lancinante. Pode ser contínua ou intermitente, e frequentemente acompanhada de alodinia, onde estímulos leves, como o toque, provocam desconforto significativo. As regiões mais comumente afetadas são os dermátomos torácicos (T4 a T6), seguidos pelos nervos cervical e trigêmeo (ramo V1).

O diagnóstico, geralmente clínico, deve ser confirmado por uma história prévia de herpes zóster. Em casos atípicos ou na ausência de confirmação clínica, exames complementares, como ressonância magnética, podem ser indicados para excluir diagnósticos diferenciais.

Os tratamentos para NPH visam controlar a dor e melhorar a qualidade de vida dos doentes. A escolha inicial depende da gravidade e da tolerância ao tratamento:

 

  1. Tratamentos tópicos: A lidocaína em emplastro e a capsaicina em baixas concentrações são opções iniciais para dor leve a moderada, embora possam ser mal toleradas por alguns doentes, especialmente na presença de alterações tróficas locais.
  1. Terapia oral de primeira linha: inclui gabapentina e pregabalina, anticonvulsivantes eficazes na gestão de dor neuropática. Alternativamente, antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e nortriptilina, podem ser utilizados, embora com prudência em idosos, devido ao risco de efeitos secundários.
  1. Outras opções terapêuticas: para casos refratários ou que não toleraram as opções terapêuticas anteriores, podem ser prescritos inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN), como duloxetina e venlafaxina, ou outros anticonvulsivantes, como carbamazepina ou ácido valpróico.

 

Em situações de dor grave e refratária, opções avançadas incluem analgésicos opioides, injeções intratecais de corticosteroides, ou técnicas invasivas, como neuromodulação, neuroestimulação e até o uso de toxina botulínica. No entanto, tais abordagens devem ser reservadas devido à escassez de estudos robustos que sustentem a sua eficácia a longo prazo.

O curso da NPH é variável, podendo durar meses, anos, ou até toda a vida, dependendo da gravidade inicial e da resposta terapêutica. A prevenção é, portanto, fundamental. Estudos clínicos evidenciam que a vacinação contra o herpes zóster, recomendada a partir dos 50 anos, reduz significativamente a incidência e a gravidade da NPH, sendo um avanço crucial na proteção contra esta condição debilitante.

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