Miragens, dislates e perplexidades
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Miragens, dislates e perplexidades

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A manta rota

Aquele que diz uma mentira não calcula a pesada carga que põe em cima de si, pois tem de inventar infinidade delas para sustentar a primeira. – Alexander Pope

O país assistiu, perplexo, às notícias: um hospital da dimensão do Garcia da Orta, servindo avultada população, encerrava as urgências pediátricas! A Sra. Ministra, célere, veio a terreiro serenar os ânimos: o engulho ia ser prontamente resolvido com pediatras doutros Hospitais do SNS e dos setores privado e social. “Non passa nada!”. “Pero” … Só que, para quem está dentro destes meios dos cuidados de saúde, à primeira perplexidade, juntou-se outra: a displicência com que é anunciada esta solução de todo lunática e que, claro, não passou de “conversa para boi dormir”, como dizem os sertanejos.

Vejamos.

Primeiro: como foi possível que se tenha chegado a este ponto? Será que a administração do hospital e a tutela não se aperceberam da impossibilidade dum reduzidíssimo número de pediatras poderem, humanamente, assegurar escalas de urgência indefinidamente? Que fizeram perante as saídas de profissionais e as vagas por preencher?

Segundo: a proclamação da Sra. Ministra pressupõe um mundo que não é deste reino. Nesse país imaginário, o hospital Garcia da Orta seria uma espécie de buraco negro, uma exceção de escassez, no meio cintilante de tantas instituições repletas de pediatras. Ora, a penúria é de tal forma generalizada que a metáfora da manta curta – a tal que, no ensejo de cobrir o pescoço, destapa os pés e vice-versa – já deixou de se poder aplicar. Estamos perante uma manta rota, a todo o momento arriscando a desfazer-se, caso a tutela insista em exercer mais sobrecarga sobre o esfarrapado contingente de profissionais. Portanto, aconteceu o que era previsível: não há pediatras disponíveis para cobrir as falhas do Garcia da Orta e a urgência fecha aos fins de semana. Até quando? Remete-se o ultrapassar da situação talvez para um próximo concurso. Este “talvez” que reflete a única centelha de racionalidade no meio de todo o otimismo desvairadamente irrealista desta tutela. Só que … os concursos andam como o nível das barragens: muito em baixo! A água está cada vez mais sequestrada na atmosfera, à conta do aquecimento global, tal como os jovens médicos que fogem do SNS.

O problema da demografia do pessoal do SNS, nomeadamente dos médicos, foi herdado pelo executivo atual e, em larga medida, a responsabilidade não lhe pode ser assacada. Também é verdade que as soluções são tudo menos fáceis. Mas é confrangedor verificar que a tutela não tem mostrado imaginação para cativar os jovens, optando por sobrecarregar os profissionais seniores. Esta inanição do ministério da saúde é irritante porque contrasta com o profícuo investimento em propaganda baseada em cenários de realidade virtual, como se continuássemos em campanha eleitoral. O Sr. Primeiro Ministro insiste nos onze mil profissionais (infausto número a evocar a sorte de Santa Úrsula e das onze mil virgens, suas acólitas) que ingressaram no SNS durante a vigência do pretérito governo, todavia ocultando os milhares que preferiram optar por outros empregadores.

A tutela deixa que as coisas cheguem ao ponto a que chegaram e apregoa futuros que cantam em que só o Ministério da Saúde parece acreditar. Fora melhor que assentasse os pés no solo e enfrentasse os problemas do SNS em vez de continuarem a apostar em fantasias douradas e desalmadas iniciativas demagógicas, como seja a supressão de taxas moderadoras.

Balázio nos pés

Na vida nunca se deveria cometer duas vezes o mesmo erro. Há bastante por onde escolher. – Bertrand Russel

Há pedradas que põem a nu as realidades incómodas acantonadas nas profundezas do charco sob espelhada superfície de enganadora inocência. Porém, também há calhaus, desajeitadamente arremessados, que mais não fazem que turvar águas já de si demasiado assombradas por outras tormentas. Nesta segunda categoria se inscreve o artigo publicado recentemente por um grupo de conceituados pediatras no jornal “Público”. A conversa é “mais do mesmo”: a culpa do caos nos serviços de urgência é dos bombos do costume – os médicos de família. Ora pois! A receita tresanda a populismo: selecionar um bode expiatório e propalar uma solução simples e radical, embora quimérica.

Permitam os leitores três comentários a um perplexo.

Primo. Porque optaram, tão inopinadamente, pela praça pública, em vez de lançar o debate dentro da classe? Não terão começado pelo teto?

Secundo. Afinal não será a Senhora Ministra a única a viver numa realidade alternativa em que se arregimentam pediatras como se adquire pera rocha na feira das Caldas da Rainha ou presuntos em Chaves. Se não há pediatras suficientes para guarnecer os cuidados de saúde secundários, onde pensam os autores do infeliz artigo ir buscá-los para robustecer as hostes dos CSP?

Terceiro. Os autores estatelam-se ao porfiar no mesmo erro de outros que os precederam ao denegrir a assistência prestada nos CSP. Como querem travar a romaria de banalidades que enxameiam os serviços de urgência quando põem pelo pó da terra a alternativa oferecida pelos centros de saúde?

Em conclusão: armaram uma zaragata, tão oportuna quanto guitarra em funeral; propuseram uma mão cheia de nada (pelo menos no lustro próximo); e contribuíram para o engrossar de minudências que emperram os serviços de urgência pediátricas.

Enfim … nem as pensaram!

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