Competência em Medicina Farmacêutica da Ordem dos Médicos
Lápis Azul
O despesismo ou a irresponsabilidade?
O direito dos direitos, como costumo dizer, é entre nós Portugueses a mãe de, senão todos, pelo menos muitos males.
Não há hora em que, estando acordados, algum de nós não ouça outro a dizer coisa do género – “eu tenho o direito a …” ou “mas temos os nossos direitos…”
Na verdade são formas comuns de miserabilismo intelectual tornado universal e ditatorial, mesmo pela parte de mitos que ignoram os mais elementares e justos deveres.
Um dos mais tremendos em Portugal derivou do poder autárquico, o qual demonstrou que há que atribuir a cada um dos seus eleitores um conjunto de coisas transformadas em outros tantos direitos (que alguém, algum dia, há-de pagar…), como centros culturais, rotundas, semáforos, pavilhões gimno-desportivos, piscinas e tantas outras estruturas em betão e asfalto, nem sempre vistas nos países mais ricos de onde voltam os nossos emigrantes…
A quantificação dos custos no imediato e a prazo, em muitas dessas obras, está por fazer. Sem responsabilizar ninguém…
Numa volta, há umas semanas atrás por um dos concelhos de transição entre os distritos do Porto e de Viseu, freguesia após freguesia, entre belezas naturais ímpares, sobre rios e montanhas, sobre aldeias e matas, contei seis pavilhões gimno-desportivos e 7 rotundas generosas, em 30 quilómetros de estradas municipais. Na realidade, cruzando aldeias e casas desertificadas, muros ao sol sem ninguém, terrenos ao abandono…
Mas seria bom que os munícipes, os cidadãos, os eleitores pudessem ficar mais esclarecidos quanto ao modo como os seus impostos e taxas são delapidadas.
Ao nível da Saúde, a estratégia de acessibilidade confundiu-se com a proliferação de centros de atendimento, nem sempre traduzindo o dever de bem administrar os dinheiros públicos.
A dispersão de serviços, sobretudo os mais especializados e exigentes, eliminou economias de escala, impediu ou limitou casuísticas aos profissionais e serviços e acabou por pôr em causa a segurança dos utentes.
Também é verdade que por norma os pensadores, por exemplo das Reformas, gostam de espraiar as suas ideias e conceitos sem limites, nem objectivos claros. De preferência sem atentar nos recursos disponíveis ou alocáveis, sejam em termos humanos, materiais ou financeiros.
A dureza da vida, como a falta de saúde, obriga a grandes sacrifícios e à necessidade de adaptações que não se compadecem com chorudos Orçamentos de Estado, espécie verdadeiramente em extinção.
O que é preciso, diria urgente, é criar alternativas e encontrar caminhos que, não podendo beneficiar do enquadramento desejável, estimulem e motivem os profissionais e as suas organizações.
A qualificação dos profissionais, dos serviços públicos, do SNS não passa exclusivamente por dinheiro e há lógicas antigas por alterar, esquemas funcionais por rever e modificar, integrações por fazer e a chamada integração e continuação de cuidados por garantir aos Portugueses.
Nem vou mais longe: veja-se como há tantos anos se fala de referenciação e continuamos, folheando jornais e revistas médicas, a ver tantos ilustres colegas a analisar e falar sobre o assunto.
Por outro lado, podemos chorar as grandezas perdidas.
Mas não será por acaso que, a cada governo que passa, lá ouvimos e reparamos na completa ausência de responsabilidade sobre a situação nacional a cada momento, remetendo-a sempre para a clássica e estafada “herança”, agora menos pesada desde que trocamos o ouro pelo papel comercial!