10 Set, 2021

Hospitais de Lisboa sem capacidade para receber urgências de obstetrícia ao fim de semana

Vários hospitais estão, de novo, sem capacidade para receber urgências ao fim de semana devido à falta de profissionais. Equipas estão envelhecidas e mais pequenas.

É uma situação recorrente nos hospitais da Grande Lisboa no período de verão, pelo menos desde 2019, e cuja resolução parece ainda estar distante. No último fim de semana, todos os hospitais desta área estiveram sem capacidade de receber urgências de Obstetrícia/Ginecologia, segundo uma denúncia feita pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM). Este verão, registaram-se limitações noutros fins de semana.

Em comunicado, o SIM explica que “a escassez de recursos humanos médicos fez ultrapassar todos os limites nos Serviços de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia em todos os hospitais da Grande Lisboa, todos eles em estado de contingência”. O estado de contingência, habitualmente ativado aquando falta de recursos humanos, implica limitações ao CODU e o encaminhamento de grávidas pelo INEM para outra unidade.

“Face a este cenário de calamidade, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes da Delegação Regional do Sul do INEM decidiu enviar as grávidas e parturientes para a área de influência de cada hospital, apesar do risco inaceitável que esta situação colocou para a segurança de grávidas, recém-nascidos e médicos”, diz o SIM.

Ao Público, o o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, lembra que a carência de obstetras e anestesistas nas urgências é um problema que se tem vindo a agravar desde 2019 por três razões: aposentaram-se mais médicos especialistas, têm ficado por preencher muitas vagas nos concursos (no último, 50% dos lugares ficaram por ocupar) e têm-se registado saídas de especialistas do SNS, muito para o setor privado.

Com as equipas abaixo dos mínimos necessários e os profissionais cada vez mais desgastados, o SIM lamenta que “a Ministra da Saúde continua sem compreender que só conseguirá fixar mais médicos no Serviço Nacional de Saúde tratando-os bem, oferecendo-lhes condições de trabalho e remuneratórias adequadas ao seu nível de responsabilidade”.

Perante a denúncia do SIM, o Ministério da Saúde garante que Lisboa teve um reforço de “21 especialistas em anestesiologista e com 4 em ginecologia-obstetrícia” no último concurso de contratação de especialistas.

Um reforço de profissionais que não impede o obstetra do Hospital de Santa e presidente da secção Sul da Ordem dos Médicos Alexandre Valentim Lourenço de traçar um cenário de envelhecimento dos quadros e redução da capacidade de resposta nesta área.

“Neste momento, estamos iguais ou piores [que no Verão de 2019]. Temos as mesmas urgências abertas com as mesmas condições ou piores. Em termos estruturais nada mudou. Os médicos estão cada vez estão mais velhos, alguns têm-se reformado e não têm entrado novos médicos ou os que entram saem ao fim de um ano ou dois. Ao lançar este alerta, estamos a dizer que é preciso retomar as medidas que estão avaliadas e concretizá-las”, afirma, ao Público.

SO

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