22 Mar, 2023

Frieiras. Doentes imunodeprimidos têm “um risco aumentado para infeções”

Catarina Pinheiro, especialista em Medicina Geral e Familiar do Hospital da Luz e da Clínica Personal Derma, fala sobre eritema pérnio, vulgo frieiras. Um problema que surge sobretudo no inverno e que pode ser mais grave em doentes imunodeprimidos.

As frieiras são mais comuns no inverno. Quem é mais afetado?

O eritema pérnio (frieiras) é mais comum em mulheres e ocorre mais frequentemente em pessoas com idade entre 15 e 30 anos e tipicamente em países com climas frios e húmidos. O baixo índice de massa corporal é frequentemente associado ao aparecimento de lesões. É também mais frequente em profissões que obriguem a contactar com gelo/congelados ou a permanecer com as mãos em água de forma prolongada. Pessoas com história familiar de frieiras, fumadores ou pessoas com outras doenças dermatológicas nomeadamente Lúpus, Esclerodermia, Doença de Raynaud ou com Leucemia ou Doença Arterial Periférica também se encontram em maior risco de poder desenvolver lesões.

 

Geralmente pensa-se nas mãos como a zona mais afetada. Mas não é única…

As lesões aparecem preferencialmente nos dedos dos pés e mãos e áreas expostas da face.

“… a rutura do tecido pode conduzir ao aparecimento de fissuras/úlceras, devendo os profissionais de saúde e os pacientes procurar ativamente sinais e sintomas de infeção”

Podem existir situações que exijam intervenção médica?

Sim. Se a pele começar a ficar esbranquiçada ou pálida e com bolhas, se tiver dificuldade na mobilidade ou sentir dor intensa na zona afetada que cause desconforto e interfira nas atividades de vida diária; se os sintomas se agravarem ou surgirem ou outros de maior intensidade; e se tiver febre.

 

Quais as complicações mais graves?

As complicações do eritema pérnio são semelhantes a outras condições vasoespásticas e podem incluir necrose tecidual se o vasoespasmo for prolongado. Além disso, a rutura do tecido pode conduzir ao aparecimento de fissuras/úlceras, devendo os profissionais de saúde e os pacientes procurar ativamente sinais e sintomas de infeção.

 

Nos casos de doentes imunodeprimidos ou com algumas patologias do foro dermatológico, até que ponto as frieiras se podem tornar um problema mais grave?

Doentes imunodeprimidos apresentam habitualmente um risco aumentado para infeções, pelo que esta complicação poderá surgir com maior frequência.

“Para pacientes que necessitam de farmacoterapia, a medicação pode frequentemente ser descontinuada durante as estações quentes e reiniciada pouco antes dos meses de clima frio”

Como se podem prevenir?

Manter a pele hidratada. Os cremes/loções hidratantes podem ajudar a aliviar o prurido; evitar a exposição ao frio, humidade e ao vento ou limitar o tempo de exposição; evitar outras agressões externas, como lavar muitas vezes as mãos em água fria ou usar detergentes; manter a pele afetada seca e quente (usar roupa adequada, luvas e meias quentes e massajar a zona afetada com movimentos suaves, sem esfregar), não usar calçado ou roupas apertadas; evitar o contacto direto com fontes de calor (não cair na tentação de, mesmo que esteja muito frio, tentar aquecer as mãos à lareira ou junto de um aquecedor); evitar fumar ou beber café, uma vez que estes contribuem para a constrição dos vasos sanguíneos, o que poderá agravar ainda mais o problema; beber água, fazer uma alimentação saudável e evitar os açúcares, que potenciam a inflamação; e praticar atividade física regularmente.

 

E qual o tratamento?

O eritema pérnio é geralmente uma condição autolimitada com episódios que duram dias a semanas. Para a grande maioria dos pacientes, medidas conservadoras e preventivas destinadas a manter a pele acral quente e seca são tudo o que é necessário tanto para a prevenção quanto para o tratamento. A cessação do tabagismo deve ser incentivada, pois a nicotina aumenta o vasoespasmo induzido pelo frio. Para pacientes com eritema pérnio secundário, o tratamento da condição subjacente deve ser otimizado. Se as medidas conservadoras forem insuficientes, a nifedipina oral é a terapia mais eficaz em crianças e adultos. A amlopdipina pode ser usada se a nifedipina não for tolerada. A terapia com hidroxicloroquina é o tratamento de escolha em doentes com lúpus eritematoso associado a frieiras e também foi demonstrado algum benefício deste fármaco em pacientes com frieiras primárias/idiopáticas.  Para pacientes que necessitam de farmacoterapia, a medicação pode frequentemente ser descontinuada durante as estações quentes e reiniciada pouco antes dos meses de clima frio. Nos últimos anos várias modalidades médicas, cirúrgicas e físicas, foram tentadas no tratamento do eritema pérnio, incluindo: derivados de vitamina B e D, bloqueadores alfa (prazosina), corticosteroides tópicos e orais, pentoxifilina, fototerapia e simpatectomia. Nenhum deles demonstrou ser amplamente eficaz e geralmente não são recomendados.

SO

Notícia relacionada

“O vitiligo tem tratamento”, diz especialista

 

Print Friendly, PDF & Email
ler mais

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Print Friendly, PDF & Email
ler mais