20 Fev, 2020

Falta de médicos no Santa Maria é “problema antigo”, diz diretor clínico

Quem o diz é o diretor clínico do hospital, que explica a carência de médicos com falta de formação de especialistas, que se arrasta 10 anos.

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Joaquim Ferro, e o diretor clínico do Hospital de Santa Maria, Luís Pinheiro, foram ouvidos na Comissão de Saúde, no parlamento, a pedido do PSD, “a propósito da degradação das condições de funcionamento dos hospitais do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

O pedido de audição surgiu na sequência de, em novembro passado, 21 chefes de equipa do serviço de urgência do Centro Hospitalar Lisboa Norte terem pedido escusa de responsabilidade devido à falta de médicos, por considerarem não estarem reunidas as condições para cuidados de saúde com qualidade e segurança, numa ação denunciada pelo Sindicado dos Médicos da Zona Sul.

“Um problema que parece ser novo, mas que é antigo”, disse Luís Pinheiro, sublinhando que “nada se passou” em novembro de 2019, do ponto de vista do serviço, que não se tenha passado em anos anteriores.

 

“Não é um problema por falta de vontade de contratar especialistas para as urgências, mas porque não [os] há”

 

“Terá acontecido algo diferente do ponto de vista do enquadramento, eventualmente, por uma questão de oportunidade ou de algum cansaço por parte das equipas. Não é um problema por falta de vontade de contratar especialistas para trabalhar nas urgências, mas porque não [os] há”, afirmou.

Luís Pinheiro salientou que existe uma “lacuna geracional” devido à falta de formação de especialistas há dez anos, pelo que agora estão em falta.

Mais de 50% dos médicos tem mais de 50 anos e alguns fazem urgências noturnas, sublinhou.

Por seu turno, Joaquim Ferro referiu que nos últimos anos houve uma alteração das equipas no serviço de urgência e que hoje há menos especialistas, o que obrigou a um esforço redobrado por parte dos especialistas de medicina interna.

Segundo o presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, constituído pelos Hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, para minimizar este problema está a ser reforçada a formação na área da medicina interna.

O responsável exemplificou que há cerca de cinco anos apenas se formavam, naquele hospital, sete ou oito médicos, e em 2019 conseguiram formar-se 14, perspetivando-se que em 2020 se possam formar 17.

Outra das medidas apontadas por Joaquim Ferro foi a de reforçar a contratação de médicos desta especialidade, que “se tornou quase o tronco das equipas de urgência”, referindo ainda que durante três anos vai ser necessário “reforçar pelo menos em seis especialistas a medicina interna”.

“Temos a curto prazo três especialistas a mais já recrutados – e já no hospital – e no próximo concurso serão recrutados mais três”, salientou, acrescentando que também se reforçou as equipas “com pessoas mais capacitadas” e internos com mais experiência.

Relativamente a contratações de profissionais de saúde, Joaquim Ferro indicou ainda que foi possível contratar cerca de 200 pessoas em 2019 e estão previstas mais aquisições nos próximos anos, afirmando que o hospital ficará “confortável com essas contratações” em todas as áreas.

O responsável considerou como “insuficiente” o investimento nos últimos anos e acrescentou que o objetivo é “tentar que, nos próximos três anos, a instituição consiga duplicar a capacidade de investimento”, o que significa “passar de um esforço de investimento de quatro milhões de euros por ano” para “cerca de nove a 10 milhões de euros por ano nos próximos três anos”, visto que há muitos equipamentos que precisam de ser substituídos.

Defendeu ainda a necessidade de melhoria de infraestruturas, exemplificando que existe um plano para recuperar nove enfermarias que ainda são “da altura da fundação do hospital”, com “pisos de madeira” e “com uma casa de banho por enfermaria”.

TC/SO

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