26 Jun, 2018

Falta de médicos e enfermeiros podem levar hospitais do Algarve à rutura

Carência de profissionais, somada à passagem do horário de trabalho para as 35 horas e à enchente de turistas, pode levar serviços de saúde da região à rutura. Despacho para reforçar número de médicos está quase um mês atrasado.

Com a habitual enchente de turistas à porta – no verão a população triplica, para 1,5 milhões de pessoas -, o mês de julho poderá ser crítico para se avaliar a capacidade de respostas que as unidades de saúde da região darão este ano. E, para já, o cenário não é animador. O Ministério da saúde só vai publicar esta terça-feira o habitual despacho de mobilidade especial, que permite reforçar, até ao fim de setembro, o número de médicos na região. Também o número de enfermeiros estará muito abaixo do necessário.

No que diz respeito aos médicos, o despacho – que é publicado desde 2016 – prevê um reforço da capacidade de resposta na região no período de 1 de junho a 30 de setembro. Acontece que o referido despacho, que nos dois últimos anos, foi publicado no início de junho, só verá a luz do dia este ano cerca de um mês mais tarde do que o normal.

Com este atraso, a medida de reforço entra em vigor quando muitos hospitais já têm construídas as escalas para o período de férias, o que pode vir a limitar ainda mais o já reduzido impacto que este despacho tem tido. O Centro Hospitalar do Algarve tem registado uma muito fraca adesão a este programa: se em 2016, foram sete os médicos que aceitaram ir trabalhar para a região ao abrigo desta mobilidade especial, no ano passado foram apenas quatro.

O facto de os médicos que se candidatem às vagas abertas nas unidades de saúde algarvias não verem alterado o seu salário – o médico cumpre o mesmo horário e ganha o mesmo que na sua unidade de origem – é um dos fatores que está a limitar a adesão. Isto apesar de os clínicos terem direito ao pagamento das ajudas de custo e despesas de transporte ( valores vão dos 50 aos 200 euros, dependendo se pernoitam na zona e há necessidade de subsídio de transporte, de acordo com o regime especial de mobilidade parcial criado em Março de 2015).

A lista de especialidades carenciadas ainda não é conhecida, mas, com base no que se verificou no último ano, é expectável que o Ministério procure clínicos especialistas em anestesiologia, ortopedia, ginecologia/obstetrícia, pediatria, medicina interna, cirurgia geral, entre outros. Algumas destas são também especialidades em que o recurso às prestações de serviço são habituais para colmatar a falta de médicos.

Faltam 500 enfermeiros

A somar a falta “crónica” de enfermeiros na região, o novo horário semanal de 35 horas, que entrará em vigor a 1 de julho, e o inevitável aumento do número de utentes nos meses de verão, podem criar uma “tempestade perfeita” no que diz respeito aos cuidados de enfermagem.

A Ordem dos Enfermeiros (OE) já apelou a um boicote às “falsas horas extraordinárias” a partir de 1 de Julho para compensar as lacunas provocadas pela passagem das 40 para as 35 horas semanais. A OE recomenda, em comunicado, a “recusa imediata” da realização de “falsos turnos extraordinários programados” e sugere que se encerrem camas – uma possibilidade que se afigura cada vez mais real –  em vez de reduzirem o número de enfermeiros por turno a partir do início do mês. A Ordem afirma ter recebido denúncias referentes a tentativas de coação a enfermeiros por parte de algumas chefias e lembra que esse tipo de coação constitui um crime.

Com o objetivo de alertar os turistas para a grave carência de profissionais na região, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) aposta pela primeira vez numa campanha publicitária especialmente dirigida aos turistas nos transportes de Faro e Portimão e em que alerta para a grave carência de profissionais no Algarve. “Summer is coming” (o Verão está a chegar) é o mote da alerta que o Sindicato pôs a circular nas traseiras de pequenos autocarros na região e que inclui a caricatura de um doente debilitado a carregar um saco de soro.

Segundo a estimativa da direcção regional do Algarve do SEP, só nas unidades de Faro e Portimão são necessários cerca de 350 enfermeiros e, nos centros de saúde da região mais 150, para colmatar o fim das 40 horas. Se não forem contratados enfermeiros entretanto, o cenário de rutura dos cuidados no Algarve pode mesmo vir a concretizar-se.

Saúde Online  

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