14 Fev, 2020

Estudo. Mais de metade dos portugueses é a favor da eutanásia

Entre as opiniões desfavoráveis contam-se os mais velhos e as pessoas com menor nível de escolaridade. Quase dois terços defendem referendo.

Esta investigação, da responsabilidade do Laboratório de Psicologia do Instituto Universitário Egas Moniz e que será apresentada na próxima semana, avaliou as atitudes da população portuguesa face à eutanásia, em articulação com fatores de ordem psicológica, designadamente a solidão, a satisfação com a vida, o mal-estar psicológico, o bem-estar espiritual e a personalidade.

Os dados da investigação, que decorreu durante os meses de dezembro do ano passado e janeiro deste ano e abrangeu 1.695 pessoas de várias regiões de Portugal continental, indicam que mais de metade (50,5%) dos inquiridos revelou atitudes favoráveis face à eutanásia, um quarto (25,6%) reportou atitudes desfavoráveis e os restantes (23,9%) manifestaram indecisão quando a esta matéria.

“Verificou-se que os inquiridos com idades mais avançadas, com um menor nível de escolaridade, que se identificaram com uma determinada religião e reportaram prática da mesma, que consideraram ter um estado de saúde mais debilitado e que referiram possuir uma menor informação sobre a eutanásia, são aqueles que integram o grupo dos sujeitos com atitudes mais desfavoráveis face à eutanásia”, referem os investigadores.

Pelo contrário, acrescentam, “os inquiridos mais jovens, com um maior nível de escolaridade, sem identificação a qualquer religião, que consideram ter um melhor estado de saúde, bem como um maior grau de informação sobre a eutanásia, representam o grupo dos sujeitos com atitudes mais favoráveis”.

 

Mais de 63% defende referendo

 

A maioria dos inquiridos revelou uma clara preferência pelo recurso a um referendo popular para decidir acerca da despenalização (63,7%), sendo esta opção ligeiramente mais evidente nos homens (66,6%) do que nas mulheres (61,7%). Cerca de um quarto da população inquirida (23%) reportou não saber qual a melhor forma de decidir esta questão e 13,3 % dos participantes manifestou preferência pela decisão parlamentar quanto à eventual legalização da eutanásia.

Mais de metade (56%) disse ter um grau moderado de informação sobre a eutanásia e a percentagem de inquiridos que se posicionou no polo da baixa e nula informação (22,1%) é aproximadamente a mesma daqueles que se enquadraram no polo da elevada e muito elevada informação sobre a eutanásia (21,6%).

Perante o cenário de uma pessoa com doença terminal que pede, para aliviar a dor e sofrimento, que sejam usados meios ativos como uma injeção letal, para antecipar morte, a maioria dos inquiridos (59%) diz que apoiaria este pedido. Já no caso de uma pessoa com doença terminal que, para aliviar a dor e sofrimento, pede que sejam utilizados meios passivos, como a retirada de tratamento ou equipamentos que permitem manter a vida, a maioria (68%) responde que apoiaria o pedido.

Comparando os dois cenários, os investigadores concluem que os inquiridos tendem a aceitar melhor as “práticas de eutanásia orientadas para a retirada de respostas que permitem a manutenção da vida, do que para o recurso a estratégias que induzam a morte”.

Já perante o cenário de uma pessoa em estado de coma e com doença terminal, incapaz de dar o seu consentimento para pôr termo à vida, 43% dos inquiridos diz que não apoiaria que os familiares desse doente solicitassem o recurso à eutanásia.

Quanto ao grau de aceitação da eutanásia associada ao intenso sofrimento psicológico, e perante um cenário em que uma pessoa sem doença terminal, mas com intenso sofrimento psicológico, solicita eutanásia, mais de metade (56%) recusaria o pedido. Apenas 18% dos inquiridos apresentou uma opinião favorável a esta prática.

“Estes dados parecem sinalizar que a inexistência de uma doença terminal, conotada com sofrimento físico, está relacionada com uma menor aceitação da eutanásia, ainda que possa existir um intenso sofrimento psicológico”, escrevem os autores do estudo.

Face ao cenário de uma pessoa sem doença terminal, mas com demência irreversível grave e que ainda num estado de lucidez tenha solicitado a prática de eutanásia caso um dia se encontrasse num estado em que não tivesse capacidade para fazer tal pedido, a maioria (51%) diz apoiar.

“Este dado parece refletir a primazia pelo respeito à autodeterminação quanto à antecipação da morte, desde que realizada num estado de lucidez”, referem os autores.

Os resultados desta investigação serão apresentados num encontro que decorrerá no próximo dia 18, no Instituto Universitário Egas Moniz, e que integrará igualmente uma conferência sobre a “Morte e o Morrer” e um debate multidisciplinar.

SO/LUSA

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