Endometriose: Ter dores incapacitantes durante a menstruação não é normal!
Especialista em Ginecologia-Obstetrícia no Hospital da Luz Lisboa

Endometriose: Ter dores incapacitantes durante a menstruação não é normal!

A Endometriose afeta cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo, sendo que um terço das afetadas têm também infertilidade. Infelizmente, esta é uma patologia que habitualmente tem um diagnóstico tardio. As queixas dolorosas nem sempre são valorizadas e investigadas de forma correta, sendo crucial eliminar a ideia de que é normal ter dores incapacitantes durante a menstruação.

Antes de mais, importa definir o que é esta doença crónica e de causa desconhecida. A Endometriose consiste na presença do endométrio e de todo o processo deste fora do útero. Este tecido reveste a cavidade uterina e cresce todos os meses, culminando na descamação e, consequentemente, menstruação. Ou seja, em pessoas afetadas pela Endometriose, o tecido cresce e “menstrua” ciclicamente em qualquer parte do corpo, podendo manifestar-se de diferentes formas, dependendo do local: quistos, aderências ou nódulos.

Como tal, é extremamente importante pesquisar e diagnosticar atempadamente a existência desta doença, de modo a orientar o tratamento para a melhoria de qualidade de vida e preservação da fertilidade nas mulheres jovens. Esta doença manifesta-se maioritariamente por dor intensa (associada à menstruação, ao evacuar ou urinar, ao ovular e até durante a relação sexual), sendo que estes sintomas nunca devem ser desvalorizados.

Sem os cuidados adequados, esta doença pode ainda causar infertilidade. Para evitar este desfecho, é importante estar atenta aos sintomas, procurar ajuda especializada se não conseguir engravidar após um ano de tentativas e fazer uma vigilância ginecológica regular. Todas as mulheres devem fazer esta vigilância pelo menos uma vez por ano.

No entanto, existe ainda um atraso de 7 a 10 anos em média devido à desvalorização da importância destes cuidados. Torna-se assim crucial alertar a sociedade para a existência deste problema e incentivar a procura por ajuda por parte das mulheres em caso de dor incapacitante.

Além disto, deve ainda haver uma melhoria da formação dos profissionais de saúde e não só da especialidade de ginecologia, para que seja possível realizar o diagnóstico de forma atempada.

Depois de haver uma suspeita clínica, a confirmação deve ser feita através de uma ecografia realizada por um especialista que saiba identificar e mapear a doença, o que também nem sempre acontece. Em caso de suspeita, deve sempre ser procurado um médico que se dedique ao tratamento específico da endometriose.

Quando isto acontece, é possível estudar o caso de cada doente e determinar qual o melhor tratamento, sendo que cada caso é um caso. Por exemplo, o tratamento de uma mulher com filhos e que procura qualidade de vida será sempre diferente do tratamento aplicado a uma mulher que ainda não tenha filhos e que os queira ter. De acordo com isto, recorre-se à terapêutica médica (analgesia e terapêutica hormonal), que é muitas das vezes suficiente para controlar a doença, ou à cirurgia, aplicada em casos mais graves. Aliado a estas, é ainda importante implementar hábitos de vida mais saudáveis, como uma dieta mais anti-inflamatória, a prática de exercício físico e a diminuição do stress diário, evitando a progressão da doença.

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