É possível remarcar milhares de cirurgias adiadas nos próximos anos?

"Greve cirúrgica" dos enfermeiros, iniciada há uma semana, já levou ao cancelamento de mais de 2000 cirurgias. Bastonária dos Enfermeiros garante que o SNS não tem capacidade de reprogramar todas as cirurgias nos próximos anos. Ministra da Saúde diz o contrário.

A chamada “greve cirúrgica”, que os enfermeiros iniciaram há uma semana e que se deverá prolongar (se não houver acordo com o governo), até ao final do ano, tem registado uma adesão a rondar os 95% e já obrigou ao adiamento de mais de 2000 cirurgias, segundo os sindicatos. Mas, pressionado pela falta de recursos e pessoal, tem o Serviço Nacional de Saúde capacidade de reagendar milhares de cirurgias agora adiadas para os próximos anos? O governo diz que sim mas a bastonária dos Enfermeiros garante que não.

Questionada sobre os impactos da greve nos blocos operatórios de cinco grandes hospitais do país, a ministra da Saúde dizia, no sábado (à margem da cerimónia do juramento de Hipócrates dos médicos recém-formados, em Lisboa), que as cirurgias adiadas devido à greve dos enfermeiros serão reprogramadas “em primeira mão no contexto do Serviço Nacional de Saúde e o quanto antes”.

Sempre em tom crítico quanto à “forma agressiva da greve”, Marta Temido procurou salientar o facto de o Ministério já “ter pedido um pedido de parecer ao conselho consultivo da PGR sobre os termos da greve”, o que poderá deixar antever uma batalha jurídica com os enfermeiros.

Hoje foi a vez de o secretário de Adjunto e da Saúde dizer que a remarcação das cirurgias canceladas devido à greve “é prioritária” para minimizar o impacto desta situação nos doentes. Essa reorganização será uma prioridade “no sentido de minimizar o impacto nos doentes portugueses”, disse Francisco Ramos, à margem da conferência “Medicamentos – Enfrentando os Desafios: Equidade, Sustentabilidade e Acesso”, promovida pelo Infarmed e pela OMS Europa.

 

“SNS não tem capacidade”

 

No entanto, a bastonária dos enfermeiros mostra-se preocupada com o volume de cirurgias que estão a ser canceladas e alerta para a gravidade do problema.“Toda gente percebe que o SNS não vai ter capacidade nos próximos anos para reprogramar estas cirurgias. Estamos a falar de uma greve que dura até 31 de Dezembro”, disse Ana Rita Cavaco aos jornalistas, à margem de um debate sobre os recursos humanos na saúde promovido pela consultora IASIST.

A bastonária acusa o Ministério da Saúde de estar “completamente capturado pelo Ministério das Finanças” e considera que a proposta que o Governo apresentou aos sindicatos de enfermeiros não é uma proposta da saúde. “Esta proposta, na verdade, é da equipa das Finanças, que teima em não ter sensibilidade nenhuma para perceber que se a Ordem atribui um título de especialista, essa categoria tem de estar numa carreira. Não podemos continuar a ter enfermeiros sem carreira”, declarou.

“Não basta mudar de ministro. Se a obsessão pelo défice zero continuar na mesma, não há proposta que se consiga fazer e chegar a consensos. Hoje não temos Ministério da Saúde”, adiantou.

Saúde Online / Lusa

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