Diabetes pediátrica. Especialistas em Lisboa defendem mais inovação e inclusão
Tecnologia e deteção precoce da diabetes tipo 1 com risco genético e auto-anticorpos são temas que irão ser abordados entre amanhã e sábado na reunião anual da Sociedade Internacional de Diabetes Pediátrica e do Adolescente (ISPAD). O evento decorre em Lisboa e tem como temática central “Inclusão e Inovação na Diabetes Pediátrica”.

“Queremos promover a discussão sobre como podemos assegurar um acesso mais célere e equitativo dos doentes às inovações que estão a surgir nesta área e que estão a mudar a abordagem do tratamento das diferentes formas de diabetes em crianças, adolescentes e jovens adultos”, afirma Catarina Limbert, presidente da comissão organizadora e professora na NOVA Medical School. A responsável realça, em declarações ao SaúdeOnline, a importância de um evento multidisciplinar, onde se irá debater o problema da diabetes em crianças e adolescentes.
No caso específico da diabetes tipo 1, a mais prevalente nesta faixa etária, a pediatra destaca a discussão que irá decorrer em torno das novas tecnologias e das novas terapêuticas. “Estamos num ponto de viragem na diabetes tipo 1 ao se passar de uma fase de substituição da insulina para uma outra, a do tratamento da doença autoimune subjacente”, diz.
Como explica, hoje em dia, estão a ser dados vários passos para se apostar na deteção precoce da diabetes tipo 1 com risco genético e auto-anticorpos. “Em cerca de 95% das crianças que desenvolvem os sinais clássicos de sede, aumento da frequência urinária e perda de peso é possível detetar auto-anticorpos no sangue”. É, assim, “importante apostar-se em rastreios, para que se possa atrasar a doença, já que estão a ser desenvolvidas terapêuticas que atuam nessa fase inicial”.
Em Portugal já existe um projeto de rastreios na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), que abrange crianças entre os 7 e os 10 anos de idade, quando existe história familiar de diabetes tipo 1. Contudo, na sua opinião, este rastreio deveria iniciar-se aos 5 anos, mesmo sem história familiar. “Das crianças diagnosticadas, apenas uma em cada dez tem alguém, na família com a doença, por isso o rastreio deveria ser alargado”, defende.
Questionada sobre os custos dessa medida, Catarina Limbert afirma que são muito mais significativos os das consequências da doença.
Quanto ao acesso à tecnologia, a pediatra recorda como têm sido dados muitos passos importantes que contribuem para o controlo da patologia e para uma melhor qualidade de vida. Todavia, acrescenta, as realidades são díspares. “Ainda há muitas crianças e jovens, sobretudo em países menos desenvolvidos, que têm dificuldades até em ter acesso a tiras de medição da glicose…”
Alerta, ainda, para um novo problema de saúde pública que afeta os mais novos: a diabetes tipo 2. “A obesidade está a aumentar na idade pediátrica, o que levou a um aumento de casos de diabetes tipo 2, uma doença que costumava ser, essencialmente, dos adultos. É mais uma preocupação a que a ISPAD tem de estar atenta.”
Ainda relativamente ao evento, a responsável destaca o momento da assinatura da chamada Declaração de Lisboa, que é uma atualização da primeira, a Declaração de Kos. “A ISPAD existe há 50 anos e foi fundada com o intuito de reunir investigadores e profissionais de saúde para partilharem conhecimentos. Atualmente, temos novos desafios, por isso a nova Declaração será apresentada durante o congresso, com publicação simultânea na revista Lancet Diabetes & Endocrinology.”
MJG
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