26 Nov, 2020

Cuidados Intensivos. “É má ideia reduzir mais as camas para doentes não Covid”

O diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João alerta para o perigo de se continuarem a aumentar as camas em UCI para doentes Covid.

Com os cuidados intensivos sob pressão em várias zonas do país, os especialistas lembram que, apesar de haver ainda capacidade de aumentar as camas em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), isso significaria um “sacrifício da assistência aos outros doentes”.

Várias unidades hospitalares têm, de forma paulatina, vindo a aumentar as camas em UCI. Existem neste momento 589 camas dedicadas à Covid-19 em todo o país, sendo que o último levantamento apontava para uma capacidade total de cerca de mil camas. Contudo, os especialistas que trabalham no SNS deixam um alerta. “Não é boa ideia e é inseguro reduzir mais as camas em UCI para [doentes] não-Covid além do número atual”, sublinha José Artur Paiva, diretor do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João, em declarações ao jornal i.

O especialista alerta que, ao contrário do que aconteceu na primeira vaga da pandemia, neste momento não é aconselhável descurar a restante atividade não-Covid, uma vez que se prevê que a pressão nos hospitais se mantenha durante todo o inverno, possivelmente até maio.

Prof. Dr. José Artur Paiva, diretor do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João

“Não podemos manter o tipo de expansão que temos agora porque não é compatível com a atividade médica normal”, corrobora João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Medicina Intensiva.

Já esta quinta-feira, em entrevista ao Público, a ministra da Saúde admitia que Portugal pode ir até “1000 camas em cuidados intensivos para covid-19, mas com prejuízo para outras doenças”.

Num documento recente, onde o Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos emite seis recomendações para gerir as decisões em contexto de UCI, este órgão alerta para a necessidade de “capacitar a Medicina Intensiva de forma sustentada, estruturando uma melhor resposta a este desafio de coabitação” entre doentes Covid e não-Covid.

A planificação é, neste contexto, essencial. Nomeadamente no que diz respeito à transferência de doentes para hospitais menos sobrecarregados. “É possível planear estas transferências de forma programada. Temos de garantir que o cidadão que precisa de medicina intensiva não tem de esperar para a receber e, ao mesmo tempo, que os profissionais de saúde não precisam de ficar sobrecarregados se há capacidade noutra região”, diz José Artur Paiva.

TC/SO

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