<i class="iconlock fa fa-lock fa-1x" aria-hidden="true" style="color:#e82d43;"></i> Controlo de ritmo precoce e seguro na Fibrilhação Auricular
Francisco Moscoso Costa Cardiologista, eletrofisiologista Hospital de Santa Cruz e Hospital da Luz

Controlo de ritmo precoce e seguro na Fibrilhação Auricular

A Fibrilhação auricular (FA) é a arritmia mais prevalente no ser humano e está associada a perda de qualidade de vida e aumento do risco de eventos cardioembólicos, de insuficiência cardíaca e de morte. O seu tratamento inclui hoje três pilares fundamentais. A proteção para fenómenos cardioembólicos, uma adequada estratégia de controlo de frequência e/ou ritmo e por último, mas não menos importante, o manejo das comorbilidades.

Recentemente, o ensaio EAST-AFNET 4, mostrou que uma estratégia de controlo de ritmo precoce, farmacológica e/ou por estudo eletrofisiológico com ablação, quando comparada à estratégia convencional recomendada nas últimas Guidelines da ESC (controlo de ritmo apenas para doentes que permanecem sintomáticos), se associou a menor risco de morte cardiovascular, AVC, enfarte do miocárdio e hospitalização por insuficiência cardíaca.  Estes dados levam-nos a considerar um maior número de doentes para controlo de ritmo mesmo que assintomáticos, em particular doentes mais jovens, com menor tempo de evolução da arritmia e com aurícula esquerda não muito dilatada, onde se prevê um maior sucesso na manutenção do ritmo sinusal. De acordo com as recomendações atuais, devem também ser considerados para controlo de ritmo, doentes com fibrilhação auricular e disfunção ventricular esquerda, em particular se esta for presumivelmente relacionada com a perturbação do ritmo.

Em Portugal, dados do mundo real (registo X-RAY AF) mostram espaço para melhoria, observando-se nos cuidados de saúde primários uma percentagem importante de doentes não selecionados para controlo de ritmo e uma utilização subótima de antiarrítmicos onde a amiodarona é o fármaco mais prescrito. Dados do registo nacional de eletrofisiologia mostram que em Portugal, são efetuados mais de 1000 procedimentos de ablação de FA por ano, número que tem vindo a aumentar, mas que se encontra ainda abaixo da média europeia por milhão de habitante.

Para conseguir uma estratégia de controlo de ritmo eficaz e segura, é crucial individualizar as opções de acordo com o perfil do doente. Particularidades como a presença de cardiopatia estrutural, doença coronária ou outras comorbilidades influenciam diretamente a escolha da terapêutica antiarrítmica e também os resultados da ablação por cateter. No seguimento, o eletrocardiograma, assume um papel fundamental para avaliar a segurança e eficácia dos fármacos antiarrítmicos, permitindo monitorizar perturbações da condução e da repolarização bem como o intervalo QT que podem ser afetados pelos fármacos mais comuns. Ao longo dos anos, mudanças nas características clínicas do doente e/ou a evolução da Fibrilhação Auricular, obrigam a manter estes doentes sob vigilância e sempre que necessário, ajustando a terapêutica ou revendo a estratégia inicial. A referenciação para ablação por cateter deve ser considerada se falência dos fármacos antiarrítmicos ou quando estes não são tolerados ou desejados pelo doente.

Por último, na prática clínica, um controlo de ritmo precoce depende hoje também do desafio organizacional da integração de cuidados numa rede de referenciação eficaz, que permita quando necessário, o auxílio na decisão e implementação de estratégias terapêuticas individualizadas.

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