Colangite biliar primária é uma doença silenciosa, mas com consequências graves
Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)

Colangite biliar primária é uma doença silenciosa, mas com consequências graves

A colangite biliar primária (CBP) é uma doença do fígado que vai acompanhar a pessoa durante toda a vida. Se não for tratada, esta doença é progressiva, e pode evoluir para doença hepática terminal.

É sabido que a CBP atinge maioritariamente as pessoas do sexo feminino, mais precisamente, nove mulheres por cada homem. As idades mais comuns de diagnóstico situam-se entre os 40 e os 60 anos, em ambos os sexos.

A frequência da CBP é maior em pessoas do norte da Europa e menor nas populações de origem africana. Em Portugal, estima-se que existam entre 500 a mil casos de CBP, o que a torna uma doença rara e pouco conhecida.

A realidade é que ainda não se sabe, ao certo, a causa da CBP, mas presume-se que esteja relacionada com o sistema imunitário, isto é, que seja de causa autoimune.

Sem cura, a CBP pode progredir lentamente e muitas pessoas não apresentam sintomas, principalmente nas fases iniciais da doença. Os sintomas iniciais mais comuns são fadiga e comichão na pele (prurido). Porém, embora menos frequentes, existem também outras manifestações a ter em conta, como dor abdominal; escurecimento da pele; pequenas manchas amarelas ou brancas sob a pele, ou ao redor dos olhos.

Algumas pessoas apresentam também queixas de boca e olhos secos e dores nos ossos, músculos e articulações.

De acordo com a progressão da doença, podem surgir sintomas associados à cirrose: amarelecimento da pele (icterícia); inchaço das pernas e dos pés (edema); barriga inchada devido à acumulação de líquido (ascite); sangramento interno na parte superior do estômago e do esófago, devido à dilatação das veias (varizes).

O enfraquecimento dos ossos, conhecido por osteoporose, que leva a fraturas, é outra das complicações da CBP. Embora seja mais comum em fases finais da doença, também pode ocorrer inicialmente. Além disso, as pessoas com cirrose apresentam risco aumentado de cancro do fígado (carcinoma hepatocelular).

Ainda assim, em 25 por cento dos casos não existe qualquer sintoma e a doença é, incidentalmente, detetada durante uma avaliação de rotina, pela elevação das análises do fígado, em especial da Fosfatase Alcalina.

Apesar de, à partida, ser uma doença de causa autoimune, já foram identificados alguns fatores de risco, além dos genéticos. São fatores ambientais, como os componentes do fumo de cigarro; e as infeções urinárias frequentes.

Em muitos casos, a doença mantém-se ligeira ou moderada, sem perturbações do funcionamento do fígado. Contudo, em outros evolui para cirrose e falência hepática.

Os objetivos do tratamento são impedir ou retardar a progressão da doença e aliviar os sintomas. Tal como na maioria das doenças, é importante que o diagnóstico seja feito tão precocemente quanto possível, por forma a iniciar o tratamento atempadamente, evitando consequências mais graves da doença, e a necessidade de transplante hepático.

Esteja atento aos sinais e sintomas do seu corpo e consulte o seu médico assistente com regularidade, a fim de diagnosticar esta ou outras doenças, e de as tratar, evitando a sua progressão e prevenindo situações mais graves para a sua saúde.

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