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Cogitações Vadias (Parte III )
A DGS está de parabéns!
“(….) nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado.”
James Baldwin
No meu tempo havia nos partidos políticos um departamento chamado “agiporp”, semi-acrónimo de “agitação” e “propaganda”. Entenda-se por propaganda a difusão das ideias sob a forma de textos estruturados, participação em debates ou sessões de esclarecimento, defendendo a sua bondade pela via da razão. Quanto à agitação, que incluía as palavras de ordem, os panfletos, as manifestações, os cartazes, ou os comícios, tinha como objetivo mobilizar para a ação pela via da emoção. A promoção da mensagem política marchava sobre estas duas pernas, ambas imprescindíveis.
De certo modo, a agitação era sinónimo de publicidade, que se não fora eficiente, malgrado os conteúdos serem amiúde tontos, não seria negócio de muitos milhões em todo o mundo. Quer se queira quer não, o homem não é um animal racional, mas só parcialmente racional. Se quiserem será um ser emo/racional ou razo/emocional, mas não exclusivamente racional. Por isso a publicidade, que mexe na componente não racional da mente, é tão eficaz.
Assim se explica o insucesso da promoção de estilos de vida saudável porque se limita quase exclusivamente à divulgação de informação (ou seja: propaganda), olvidando a agitação (quer dizer a publicidade). Propaganda pura e dura, por muito bem estruturada e apresentada que esteja, não tem efeito expressivo na adesão ao consumo e consequente dependência. Isto é já sobejamente sabido. Acredito que seja bom adubo para ações futuras e essas sim relevantes: aumentos significativos de preços e medidas proibicionistas. Mas não mais que isso. As pessoas ao interiorizarem conhecimento não alteram comportamentos, mas fundamentam nesse conhecimento a aceitação dos tais meios efetivos que alteram comportamentos.
Voltando ao tabagismo, constatamos com facilidade que os legisladores e governantes não estão apostados em combate-lo, mas sim em fingir que o fazer, apostando em medidas anódinas. Portanto, resta a educação para a saúde e há aproveitá-la da melhor maneira possível e evitar cair na armadilha da informação insonsa. Assim sendo, regressemos à agiprop. Como vimos, para a capacitação do cidadão não basta aumentar a literacia (propaganda), há que apostar na agitação. Foi o que fez a atual liderança da DGS. Sabendo-se que em Portugal a guerra ao tabaco (em prole da saúde, recordemos) é um fiasco mal disfarçado e que o aumento de mulheres fumadoras é particularmente preocupante, elegeu-se como alvo prioritário esta população. Combater a emergente epidemia do tabagismo junto das jovens portuguesas explicando-lhes apenas os prejuízos para a saúde, as repercussões nos filhos gerados sob efeito do tabaco e na dificuldade em suspender o consumo durante a gravidez, é estratégia destinada à mais frustrante derrota.
Será bom lembrar os mais distraídos que neste particular não se aplica o aforismo dos evangelhos que enaltece o regresso do filho pródigo. Quero dizer: o cinquentão diabético que deixa de fumar após enfarto de miocárdio pouco ganha com a abstinência; já a adolescente que renegue os cigarros contabilizará ganhos de monta. No primeiro obtemos apenas a estabilização de danos irreversíveis, na segunda consegue-se a evicção de malefícios para ela e para a descendência. Não esqueçamos que os filhos das fumadoras se arriscam a carregar para o resto das suas vidas as marcas do envenenamento a que foram submetidos durante a gestação. A recente campanha antitabágica visa o alvo certo e parece-me não estar ferida da costumeira pusilanimidade que castra as alocuções de circunstância proferidas nos dias do não fumador e quejandos. Tem o formato indicado e foi gizada pelos profissionais certos: publicitários. Defendo que pôr profissionais de saúde a fazer propaganda antitabágica, nomeadamente a populações juvenis, é tão desadequado como encarregar os criativos de marketing de tratar doentes com DPOC.
O facto do spot agora anunciado ter desencadeado protestos abona em favor da sua efetividade. Significa que incomodou a Big Tabacco ao inferir com um nicho de mercado em ascensão. A Liga Portuguesa Pró-Cancro & Patologias Associadas veio imediatamente a público denegrir a campanha sob a tosca acusação de culpabilizar as fumadoras e ferir a igualdade de géneros. O repetido protagonismo da deputada Isabel Moreira sempre que o tabaco é visado legitima suspeitas sobre a sua lealdade para com a Constituição, concretamente para com o artigo 64. Para abrilhantar a atuação desta deputada, o BE disponibilizou um coro entoando o refrão do sexismo, não fosse a versão à capella soar pouco convincente. As vezes dou comigo a pensar se estes deputados não acham que o SNS se fortalece com o aumento de doentes!
A menos que os ofendidos contestatários queiram importar de além Atlântico o conceito de “verdades alternativas”, não podem negar a dura realidade: as mulheres que fumam durante a gravidez estão a expor os seus filhos a riscos para a saúde tremendos e, após o nascimento, perpetuam um comportamento nefasto ao servirem de (mau) exemplo. Ainda que sem dolo, a verdade é que as fumadoras são responsáveis pelos danos diversos infligidos à sua descendência. Branquear o efeito especialmente nefasto do tabaco nas mulheres é desonestidade que só interessa à industria tabaqueira.
Enfim! Já que o nível da argumentação baixou a este nível permito-me botar opinião e sugerir que a campanha da DGS cavalgue a onda feminista da Sra. deputada e exponha o cariz duplamente atentatório da condição feminina intrínseco ao tabaco. Em primeiro lugar, temos o efeito anti estrogénico; sendo os estrogénios as hormonas femininas por definição, arremeter contra estas simpáticas substâncias é ferir o âmago da feminilidade. Por outro lado, fumar tem consequências perversas na ereção masculina, portanto é atentatório do direito à satisfação das parceiras dos fumadores.