23 Out, 2024

Cancro do pulmão. “O maior desafio é diagnosticar o mais precocemente possível”

Ana Figueiredo, presidente da Direção do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP), faz uma antevisão do Congresso Português do Cancro do Pulmão, 11.º Congresso do GECP. O evento irá decorrer de 24 a 26 de outubro, em Peniche.

Porquê o tema “Personalização e Multidisciplinaridade” neste evento do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão?

Com todas as evoluções que têm existido e continuam a surgir diariamente no diagnóstico, estadiamento, tratamento e seguimento do cancro do pulmão, a sua abordagem tem que ser feita por um conjunto de profissionais que decidem o melhor tratamento para AQUELE doente com AQUELE tumor, NAQUELE momento. Só assim se consegue uma abordagem cada vez mais personalizada e eficaz.

Quais os principais desafios que se enfrentam, atualmente, no combate ao cancro do pulmão?

Nos estádios mais avançados, em que são detetados a grande maioria dos tumores, o desafio é conseguir-se prolongar a sobrevivência, com boa qualidade de vida, tentando assim transformar esta patologia numa doença crónica. Nos estádios mais precoces, uma abordagem multidisciplinar permite a utilização combinada de várias terapêuticas (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapêutica molecular) escolhidas para cada caso, aumentando também aqui de forma significativa a sobrevivência dos doentes, atrasando a possível recidiva ou progressão da doença.

Mas o maior desafio que temos pela frente é conseguirmos diagnosticar o mais precocemente possível, através da implementação de um programa de rastreio a nível nacional, que comprovadamente leva a uma diminuição da mortalidade por esta doença. Não nos podemos ainda esquecer do papel fundamental da prevenção, através da instituição de modos de vida saudáveis, nomeadamente com a evicção tabágica.

“Somos treinados para tratar, não para estar doentes, e é disso que vamos ouvir falar na palestra “Cuidar de nós para poder cuidar””

Vão dar destaque à qualidade de vida dos doentes. A perspetiva dos doentes pode diferir da dos clínicos como têm indicado alguns trabalhos neste âmbito?

A qualidade de vida é fundamental. Só tem interesse em prolongar a vida se for vivida com qualidade, e quando falamos de bem estar do doente, falamos de bem estar físico, mental e social. É verdade que a perspetiva dos doentes pode diferir das dos clínicos, porque cada doente é único, e é essa também a razão por que cada vez mais se utilizam os PROs (Patient Reported Outcomes), que nos permitem avaliar o impacto dos tratamentos em muitas situações para as quais as medições fisiológicas não existem ou são limitadas (dor, fadiga, disfunção sexual, ansiedade, náuseas,…).

O burnout dos profissionais de saúde é um tema constante nos últimos tempos e vão falar sobre esse tema. Que medidas devem ser tomadas?

Vivemos tempos difíceis, em que existe uma sobrecarga de todos os profissionais de saúde, levando a situações extremas de cansaço físico e emocional que podem transformar-se em burnout. É uma realidade que tem que ser encarada, prevenida e tratada. Geralmente, o profissional só se apercebe da sua situação num estádio já muito avançado, o que torna depois o tratamento mais complexo. Somos treinados para tratar, não para estar doentes, e é disso que vamos ouvir falar na palestra “Cuidar de nós para poder cuidar”. É a mensagem que também pretendemos passar na caminhada que vai decorrer no segundo dia do congresso (esperamos que não chova!!), “Steps of hope – cuidar de si para cuidar dos outros”

Haverá um momento para os enfermeiros. O que gostaria de destacar?

Gostaria de destacar o que no fundo todos sabemos: os enfermeiros são uma peça fundamental no acompanhamento destes doentes. Só um trabalho em conjunto na prática clínica do dia a dia entre médicos e enfermeiros permite tratar bem os doentes. Mais uma vez a multidisciplinaridade está presente. O programa de enfermagem foi preparado e desenhado pelos enfermeiros e toca em temas complementares do programa geral e tão importantes como a prevenção e diagnóstico, qualidade de vida, do tratamento ao fim de vida.

MJG

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