Cancro da orofaringe: 30% dos casos são provocados pelo HPV

A propósito da 2ª edição do HPV Clinical Cases, cuja submissão de casos está a decorrer, falámos com o Dr. Pedro Montalvão, membro do júri e otorrinolaringologista do IPO de Lisboa, sobre o impacto da infeção por HPV na orofaringe.

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Qual o impacto que a infeção por HPV pode ter na região da orofaringe?

O impacto varia consoante o tipo de HPV. O vírus do papiloma humano tem imensos genótipos e alguns desses genótipos constituem um fator de risco para tumores malignos. Outros são de baixo risco e normalmente resultam em papilomas.

Os tumores da orofaringe localizam-se habitualmente nas amígdalas e na base da língua. O mais frequente é o carcinoma pavimento-celular, que representa mais de 90% dos casos.

Os principais fatores para o surgimento deste tipo de tumores são o tabaco e o álcool. Surgiu agora um novo fator etiológico, que causa este tipo de tumores – o HPV. Normalmente resulta da prática de sexo oral.

Neste momento, sabe-se, de forma aproximada, que percentagem dos casos de tumores da orofaringe são provocados pelo HPV?

Depende dos países. Em Portugal, ronda os 30%. Contudo, em Portugal, a maior parte dos doentes com tumores HPV positivos têm o tabaco e o álcool como fatores de risco também.

Quais são os grupos etários mais afetados pelos tumores causados pelo HPV?

São, geralmente, grupos etários mais novos, em pessoas entre os 30 e os 50 anos. Já os tumores atribuídos ao álcool e tabaco afetam uma faixa de pessoas mais velhas, com mais de 60 anos.

O que sabemos é que, nos tumores ligados ao HPV, o prognóstico é melhor, isto é, respondem melhor ao tratamento. São tumores que surgem por vezes com gânglios cervicais. Em tumores mais pequenos e em estádios não avançados, as taxas de cura variam entre os 80 e os 90%.

Sente que as pessoas tendem as desvalorizar os sintomas?

Sem dúvida. A zona da orofaringe é um pouco mais escondida (inclui as amígdalas, palato, etc). Já a zona da boca está mais exposta e as pessoas podem espreitar e ver sinais suspeitos, nomeadamente no pavimento da boca e no bordo da língua. Habitualmente são zonas onde os tumores são mais visíveis. Não há razão para não se fazer um diagnóstico precoce. Contudo, estes tumores da boca não estão, normalmente, associados ao HPV.

Sente que é também necessário sensibilizar os clínicos de Medicina Geral e Familiar para este tipo de tumores?

Sim. Nós temos várias formações, quer para clínicos gerais, quer para médicos dentistas, para os sensibilizar para estas feridas que surgem na boca e que não cicatrizam, ou perdas de sangue na boca, dores localizadas que não respondem ao tratamento, etc.

Está a decorrer a submissão de casos clínicos à 2ª edição do HPV Clinical Cases. Qual é a importância desta iniciativa?

Este é um congresso multidisciplinar, que engloba várias especialidades onde o HPV tem influência: ginecologia, proctologia, dermatologia, otorrino. As lesões ligadas ao HPV surgem em várias especialidades médicas e os tratamentos usados por uma destas especialidades podem aplicar-se noutros casos.

Este diálogo entre as especialidades (que muitos vezes estão recolhidas sobre si e não trocam informações), é fundamental. A apresentação de casos clínicos leva-nos a pensar em conjunto, a tentar perceber se tivemos casos iguais e a pensar no que podemos fazer perante casos semelhantes na prática clínica futura.

TC/SO

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