8 Jul, 2024

Associação de Médicos de Família preocupada com “recursos esgotados ou no limite”

O Conselho de Ministros aprovou um plano de emergência de Saúde e nos cuidados primários quer apostar na criação de Centros de Atendimento Clínico. Ao SaúdeOnline, o representante dos médicos de família mostra-se preocupado por muitos recursos já estarem “esgotados ou no limite”.

Associação de Médicos de Família preocupada com “recursos esgotados ou no limite”

“É preciso aguardar para ver como serão operacionalizadas as medidas anunciadas pelo Governo, pois os recursos humanos, especialmente os médicos de família, estão esgotados ou quase no limite.” As palavras são de Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), em reação à proposta do Governo de criar Centros de Atendimento Clínicos para os doentes menos urgentes.

A medida, que consta do “Plano de Emergência e Transformação na Saúde: cuidados a tempo e horas, acessíveis a todos”, contempla a possibilidade de recorrer aos setores privado e social em complementaridade. No entanto, Nuno Jacinto, em declarações ao SaúdeOnline, afirma que esta resposta não está disponível em todo o país. “Em alguns locais, especialmente no interior e em áreas mais isoladas, não há médicos de família suficientes e nem sequer existe o setor privado e social para ajudar essas populações”, enfatiza.

O médico de família realça que a prioridade dada a crianças, grávidas, idosos e doentes crónicos só não acontece, atualmente, por “não haver recursos humanos suficientes”. E é precisamente por causa desta conjuntura que prefere aguardar para ver como é que a Tutela pretende operacionalizar as 54 medidas anunciadas, que incluem os Centros de Atendimento Clínico e a existência de uma “bolsa de médicos de família”, contratados para fazerem apenas algumas horas.

Outra proposta do atual Governo é a abertura de 900 vagas para médicos de Medicina Geral e Familiar, 40% a mais do que o número de recém-especialistas disponíveis. A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, justifica a decisão por querer dar a oportunidade de os novos médicos poderem escolher as zonas onde querem ficar. Além disso, disse a responsável, “estas vagas podem atrair médicos que saíram do país ou que foram trabalhar para o sistema privado”. Há ainda a acrescentar a criação de cinco unidades de saúde familiar (USF) modelo C.

Apesar de ainda aguardar mais informações concretas sobre a forma como o plano vai avançar no terreno, Nuno Jacinto considera que, para já, “não existe uma aposta em cativar mais profissionais de saúde para o SNS”. Já a propósito do objetivo delineado no plano de retirar pressão dos serviços de urgência, o presidente da APMGF sublinhou que o mesmo será mais rapidamente alcançado se a tutela der condições adequadas de trabalho e organização à MGF e aos CSP: “é o médico de família que sabe gerir melhor, no contexto dos CSP, as situações de doença aguda e que sabe orientar o doente para a urgência – quando o deve fazer –, que sabe quando tem de pedir exames e que apenas os pede quando são necessários.”

Continuando: “ No plano refere-se que é preciso diminuir nas urgências o recurso a colegas sem especialidade, porque a qualidade do atendimento e a capacidade de gerir estas situações nos serviços de urgência é melhor por parte de quem tem formação específica. Por que motivo nos CSP não deve valer o mesmo princípio? Por que resiste esta ideia de que podemos substituir o médico de família por outro profissional qualquer?”, questiona.

MJG

 

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