16 Jan, 2024

APFertilidade lamenta que Ministério da Saúde tenha ignorado pareceres críticos à regulamentação da gestação de substituição

Face ao veto da proposta de regulamentação, os casais beneficiários continuam sem uma resposta, após seis anos de espera pela legislação. “Acreditamos que alguns destes casais desistam da gestação de substituição no seu país”, diz a associação, que receia um “adensar do já enorme desespero” dos casais.

O Presidente da República devolveu a proposta de regulamentação da gestação de substituição ao Governo. A Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade) lamentou a decisão, uma vez que o Ministério da Saúde não acautelou as fragilidades que o diploma apresentava, após os pareceres negativos do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) e do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA).

“Lamentamos profundamente que, após seis anos sobre o chumbo do Tribunal Constitucional, e dois anos sobre o arrastar do processo de regulamentação, se entre em 2024 com uma lei longe de ter o suporte legal necessário para voltar a ser colocada em prática”, afirma Joana Freire, diretora executiva da associação e membro de um dos casais que pretende beneficiar da gestação de substituição para serem pais.

A responsável receia o “adensar do já enorme desespero que este bloqueio vai causar entre os casais que dependem da maternidade de substituição para constituir a sua família” e que se “preveja mais um longo caminho até que um novo diploma seja concluído e submetido a apreciação do Presidente da República”.

“Se estes cidadãos ainda se agarravam à esperança de conseguir iniciar o seu processo em Portugal em breve, cai por terra essa possibilidade a curto prazo. Acreditamos que alguns destes casais desistam da gestação de substituição no seu país e outros procurem respostas no estrangeiro, segundo condições alheias à legislação nacional e à própria APFertilidade”, conclui Joana Freire.

Às três propostas de regulamentação da gestação de substituição apresentadas pelo ministério, o CNPMA e o CNECV apontaram sempre pontos críticos que consideraram não ser ultrapassados a cada novo documento submetido ao seu parecer.

O Conselho Nacional de PMA, órgão que irá receber as candidaturas dos casais e anunciar a decisão final, considerou que “não acautela eficientemente o interesse das partes e o superior interesse da criança e não previne potenciais conflitos, nem regula os mesmos caso venham a ocorrer”, alertando ainda que não dispõe de uma estrutura que consiga “dar resposta ao que é exigido pelo projeto de decreto-lei”.

Por sua vez, o Conselho Nacional de Ética sublinhou a “necessidade de estabelecimento de um prazo razoável para o exercício do direito de arrependimento, por parte da gestante, quanto à entrega da criança aos beneficiários e progenitores biológicos”. O órgão acrescentou ser “eticamente censurável a demissão das obrigações do Estado de regular matérias que se relacionam com o Direito da Família”, ao prever direitos de visita à gestante da criança nascida e “direitos de personalidade, como a amamentação e o aleitar”.

Perante tais críticas, a APFertilidade considera expectável o desconforto do Presidente da República em promulgar a proposta de regulamentação, dado que o documento final não foi submetido a nova apreciação por parte do CNPMA e do CNECV, que consideraram, até ao último documento a que tiveram acesso, que a regulamentação estava longe de ser equilibrada quanto aos direitos de todas as partes e pelo facto de não existirem condições mínimas para receber e analisar as candidaturas dos casais.

COMUNICADO

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