“A proximidade entre todos os que trabalham na área da diabetes constitui uma mais-valia para profissionais e utentes”

Ana Paula Pona e Magda Sofia Silva são médicas internistas no Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) e autoras do livro “Diabetes de Bolso” (LIDEL). Ao SaúdeOnline, falam da obra que se destina a todos os profissionais de saúde.

Por que razão resolveram escrever este livro?

A diabetes é uma doença com implicações multissistémicas, que exige uma abordagem multidisciplinar, e cuja monitorização e tratamento tem apresentado grandes desenvolvimentos nos últimos anos. A ideia deste livro surgiu da necessidade de obter uma fonte bibliográfica atualizada, completa e de fácil consulta por vários profissionais de saúde.

Este projeto surge ainda na sequência da realização anual das Jornadas do Dia Mundial da Diabetes, um evento científico que já vai na 9.ª edição e é organizado pelas equipas multidisciplinares da diabetes, hospitalar e dos cuidados de saúde primários. Nestas jornadas existe a preocupação de focar os vários tópicos importantes na gestão da doença, elegendo em cada ano temas específicos que vêm refletidos nos vários capítulos do livro.

“Trabalhar o conhecimento sobre a doença e o seu controle é um trabalho moroso e que requer um envolvimento multidisciplinar, individualizado”

O que podem encontrar os vossos colegas nesta obra?

Escrita a pensar na prática clínica do dia a dia dos profissionais que acompanham pessoas com diabetes, os colegas encontrarão os critérios de diagnóstico e classificação, orientações de quando e como fazer o seguimento em consulta, as principais características das várias classes farmacológicas (incluindo as indicações e posologia), a abordagem das possíveis complicações (renais, cardiovasculares, reumatológicas, cutâneas, oftalmológicas e vasculares), bem como temas menos frequentemente abordados como outros efeitos da insulina, a relação entre a diabetes e o cancro e a abordagem desta doença em utentes em Cuidados Paliativos. São também temas o tratamento da hiperglicemia, durante o internamento  e secundária à corticoterapia, assim como noções sobre o manuseio das “bombas” de insulina. O livro inclui ainda um capítulo sobre alimentação e outro com exemplos de exercício físico adaptados às pessoas com diabetes.

“Neste momento histórico em que o acesso à informação nunca foi tão fácil, deparamo-nos com muita desinformação.”

 

São internistas e estão dedicadas à área da Diabetologia. Quais os maiores desafios que enfrentam relativamente a esta doença?

Um dos principais desafios é a sensibilização dos doentes para um bom controlo metabólico desde o início do diagnóstico. Tratando-se de uma doença com consequências graves, mas silenciosas, a prevenção do surgimento de complicações com a modificação do estilo de vida e da alimentação já enraizados é de primordial importância, mas ainda uma luta diária.

Do ponto de vista organizacional, a maior dificuldade é o tempo limitado de consulta (para escutar o doente, analisar o controlo, otimizar a terapêutica e reforçar os ensinos) aliado à grande prevalência de doentes com necessidade de acompanhamento hospitalar.

A literacia em saúde, e particularmente na área da diabetes é igualmente um desafio. Neste momento histórico em que o acesso à informação nunca foi tão fácil, deparamo-nos com muita desinformação. Trabalhar o conhecimento sobre a doença e o seu controle é um trabalho moroso e que requer um envolvimento multidisciplinar, individualizado e que cresce na medida das necessidades e compreensão do doente e/ou dos seus familiares ou cuidadores. Esta capacitação do doente permite-lhe tomar decisões informadas e conduz a melhores resultados no controle da doença.

“A UCFD tem funcionado como a ponte entre as equipas hospitalar e dos CSP e com a ARSLVT, promovendo melhor articulação”

 

Esses desafios agravaram-se com a pandemia?

Durante a pandemia, o acesso dos doentes aos cuidados de saúde foi um dos principais problemas identificados. E na tentativa de colmatar este problema a equipa de diabetes desenvolveu o projeto que garantiu o acesso aos cuidados de saúde aos diabéticos já seguidos na instituição através de novas formas de contacto e acompanhamento. A necessidade de distanciamento social e confinamento, e o receio dos utentes em recorrer ao hospital, constituíram uma dificuldade na monitorização e otimização do controlo da doença em muitos casos.

 

Na vossa região têm o modelo unidade coordenadora funcional da diabetes (UCFD). Como tem sido esta experiência de interligação com os cuidados de saúde primários?

A proximidade entre todos os que trabalham na área da diabetes constitui uma mais-valia para profissionais e utentes. A UCFD tem funcionado como a ponte entre as equipas hospitalar e dos CSP e com a ARSLVT, promovendo melhor articulação, analisando e resolvendo problemas, fomentando atividades em parceria, de que são exemplo as jornadas já referidas e que se destinam aos vários grupos profissionais, bem como programas ou eventos para utentes e familiares / cuidadores.

 

O livro destina-se somente a médicos ou também a outros profissionais?

O livro inclui temas úteis aos vários profissionais de saúde que integram a equipa multidisciplinar que cuida pessoas com diabetes (quer em ambulatório, quer em meio hospitalar) – enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e nutricionistas.

SO

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