A Obesidade não tira férias!
Cirurgião especialista em cirurgia da Obesidade e Metabolismo, coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano e do Grupo Trofa Saúde, professor da FMUP, investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

A Obesidade não tira férias!

Aproxima-se o calor, os dias longos, os mergulhos e os jantares tardios à beira-mar. As rotinas abrandam, as obrigações relaxam, mas há algo que o calor não leva e que se mantém: a obesidade. Esta doença crónica, progressiva e multifatorial não conhece feriados nem pausas estivais. E, infelizmente, continua a ser subestimada, principalmente durante o verão, quando os corpos se expõem e os preconceitos físicos ganham mais peso.

Enquanto muitos aproveitam para “desligar”, milhares de pessoas continuam a lutar diariamente com as limitações físicas, emocionais e sociais impostas por uma doença que vai muito além do peso. A obesidade não é fraqueza de carácter, nem um descuido com a alimentação. É uma doença crónica, complexa e que precisa de diagnóstico, acompanhamento e tratamento especializado.

Neste período do ano, a pressão estética ganha força, multiplicam-se os anúncios de soluções rápidas, dietas da moda e promessas de transformação, antes do final do verão. Nada mais enganoso. O combate à obesidade exige ciência, tempo, empatia e estratégias eficazes. Exige equipas multidisciplinares e, para muitos doentes, exige a realização de uma cirurgia metabólica. E é aqui que o verão deve servir como uma oportunidade, e não como distração.

Nos meses de verão, muitos doentes procuram, finalmente, ajuda. Com mais tempo livre, menos stress laboral e maior disponibilidade para refletir, é frequente que se confrontem com uma maior consciência corporal e com as suas limitações físicas. Começar a tratar a obesidade nesta altura do ano pode ser o início de uma transformação duradoura, não apenas para ficar bem na fotografia, mas para recuperar saúde, energia e qualidade de vida.

Em pleno século XXI, com recursos avançados e tratamentos eficazes, continua a ser importante repetir: a obesidade é uma doença e merece tratamento adequado, em qualquer altura do ano. É determinante reconhecer a obesidade como prioridade de saúde pública, pelo seu impacto na qualidade de vida e no desenvolvimento de diversas doenças associadas (diabetes, hipertensão, apneia do sono, entre outras), mas também pelas marcas invisíveis como a vergonha, a culpa e o isolamento. E a obesidade não se resolve com força de vontade, nem com soluções milagrosas. Precisa de cuidado continuado e, sobretudo, precisa de ser levada a sério.

Tratar a obesidade é estratégico. É dar início a um processo que, com o apoio adequado, pode mudar vidas. E não se trata de emagrecer para “o biquíni”. Trata-se de viver mais, melhor e com menos sofrimento.

Este verão, em vez de julgar o corpo alheio, escute a história de quem o ostenta. Em vez de prometer restrições temporárias, procure cuidados sustentáveis e duradouros. E em vez de esconder a doença, traga-a para o centro da conversa, porque só assim conseguiremos vencer o estigma. E só quando conseguirmos dar esse passo é que poderemos lutar eficazmente contra esta doença.

Que este verão sirva para desconstruir mitos, abandonar julgamentos e construir pontes para o tratamento. Porque a saúde, tal como a doença, não escolhe datas. E a obesidade, essa, infelizmente, não tira férias!

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