8 Out, 2025

Psicóloga alerta para aumento de comportamentos autolesivos nos jovens 

O aumento dos comportamentos autolesivos entre os jovens deve ser um tema debatido “sem tabus, mas com cuidado”, como realça a psicóloga Tânia Gaspar.

Psicóloga alerta para aumento de comportamentos autolesivos nos jovens 

A psicóloga Tânia Gaspar alertou hoje para o aumento dos comportamentos autolesivos entre os jovens, defendendo que as recentes mortes de dois alunos em Viseu devem servir para promover uma discussão aberta e responsável sobre sofrimento psicológico e saúde mental.

“Sendo uma situação de alerta, acho que poderemos parar um bocadinho, pensar e aproveitar este acontecimento — já que aconteceu — para poder realmente falar sobre este tema”, afirmou à agência Lusa a professora e coordenadora em Portugal do estudo Health Behavior in School-Aged Children, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala na próxima sexta-feira, Tânia Gaspar explicou que “crianças e jovens, cada vez mais cedo, recorrem a comportamentos autolesivos, com ou sem intenção suicidária, como forma de lidar com o sofrimento psicológico”. Em Portugal, um em cada quatro jovens (25%) já manifestou este tipo de comportamento.

Para a especialista, estes dados mostram que “a sociedade está a falhar”, uma vez que os jovens “não encontram espaços seguros onde possam confiar e falar sobre o que sentem”. “Não sentem que têm apoio social, quer da escola, quer da família, para lidar com o sofrimento”, lamentou.

A psicóloga defendeu que o tema deve ser debatido “sem tabus, mas com cuidado”. “Não precisamos de esconder o problema, porque ele existe e precisa de ser falado. Mas depende muito da forma como se fala”, sublinhou, apelando a uma comunicação social responsável e sem alarmismo.

Segundo Tânia Gaspar, a cobertura mediática exagerada pode aumentar o medo entre pais e professores, levando a reações contraproducentes. “Às vezes, os pais tornam-se mais rígidos, mais proibitivos, mais aflitos, e isso não é propício a que os jovens se sintam seguros para falar”, alertou.

A investigadora defendeu que é necessário apostar na prevenção, através da criação de espaços nas escolas onde se possa falar abertamente sobre sentimentos, tristeza, solidão e relações interpessoais.

Referindo-se ao caso dos dois alunos da Escola Secundária de Castro Daire, com 16 e 17 anos, que morreram por suicídio — um em maio e outro em setembro —, Tânia Gaspar sublinhou que apenas conhece as informações divulgadas na comunicação social, nomeadamente relatos de bullying e consumo de álcool.

“O consumo de álcool pode surgir como uma experiência de desenvolvimento, mas também como uma **forma de lidar com tristeza, ansiedade ou dificuldades de afirmação”, explicou, frisando a importância de estar atento a estes sinais para intervir antes que ocorram situações graves.

A psicóloga defendeu ainda que, após situações como a de Castro Daire, é fundamental que as escolas, os psicólogos e os professores realizem um trabalho de acompanhamento e reintegração junto dos alunos, incluindo colegas e docentes afetados.

“É essencial apoiar quem ficou em choque, mas também garantir que os jovens que sobreviveram a tentativas de suicídio se sintam integrados e não evitados ou expostos em excesso”, destacou.

Além do apoio psicológico aos jovens, Tânia Gaspar considera essencial envolver as famílias, ajudando-as a lidar com o medo e a incerteza. “As famílias devem ser apoiadas para saberem como agir, não escondendo o problema”, afirmou, sugerindo também a criação de grupos de diálogo para pais, onde possam partilhar preocupações e aprender a reconhecer sinais de alerta.

A investigadora lembrou que “nem todas as crianças manifestam o sofrimento da mesma forma”: algumas tornam-se mais isoladas e tristes, enquanto outras mantêm uma vida social ativa, podendo recorrer ao álcool ou a comportamentos de desinibição como forma de enfrentar a depressão.

Tânia Gaspar concluiu apelando ao reforço do número de psicólogos nas escolas, lembrando que muitos estão sobrecarregados com tarefas administrativas e de orientação vocacional. “Precisamos de psicólogos disponíveis para ouvir, acompanhar e prevenir comportamentos de risco.”

Contactos de apoio e prevenção do suicídio:

Linha Nacional de Prevenção do Suicídio – 1411
SOS Voz Amiga – 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Conversa Amiga – 808 237 327 | 210 027 159
SOS Estudante – 915 246 060 | 969 554 545 | 239 484 020

SO/LUSA

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