3 Jul, 2024

Utilização dos peptídeos natriuréticos no diagnóstico de insuficiência cardíaca: uma posição conjunta

Durante as 15.as Jornadas Práticas de Diabetologia e Obesidade em MGF da Zona Norte, João Sérgio Neves, endocrinologista na ULS São João, salientou que “a melhor forma de identificar precocemente insuficiência cardíaca (IC), num doente com diabetes, é através da avaliação dos peptídeos natriuréticos”.

Desde 2023, a Sociedade Americana de Diabetes defende que, em casos de doentes com diabetes, “e, portanto, em risco de desenvolver alterações sintomáticas ou assintomáticas de insuficiência cardíaca (IC), deve considerar-se fazer o rastreio com peptídeos natriuréticos (NT-proBNP ) para prevenir a chegada ao estadio C de insuficiência cardíaca, ou seja, uma fase mais avançada”, afirma João Sérgio Neves.

De acordo com o especialista, a avaliação do NT-proBNP deve ser realizada a todos os doentes com diabetes (tipo 1 e tipo 2) e com mais de 50 anos, ou caso tenham menos de 50 anos, mas apresentem fatores de risco ou comorbilidades.

Os valores de NT-proBNP devem ser ajustados consoante a idade, sexo e fatores de risco. “Perante o resultado, existem três grandes possibilidades: se o valor for inferior a 125 pg/mL é muito pouco provável que o doente tenha, quer IC quer outra alteração estrutural cardíaca. Porém, se existirem fatores de risco, o doente deve fazer uma avaliação anual dos peptídeos natriuréticos. Se não existirem fatores de risco, é suficiente repetir a avaliação a cada dois ou três anos”, indica o endocrinologista.

Nos casos de doentes assintomáticos com uma avaliação de NT-proBNP elevada, João Sérgio Neves indica que deve ser feito um ecocardiograma, no sentido de perceber se o doente apresenta, ou não, alterações compatíveis com o diagnóstico de IC.

No caso de o doente apresentar um valor igual ou superior a 125 pg/mL “é necessário ter em consideração os restantes fatores de risco”. O especialista dá um exemplo: “para uma pessoa com mais de 80 anos, o cut-off de peptídeos natriuréticos vai ser bastante superior, e, portanto, não devemos utilizar o valor 125 pg/mL, caso contrário praticamente todas as pessoas terão um rastreio positivo”.

Noutra perspetiva, caso o doente ultrapasse o valor de 125 pg/mL e o cut-off se encontre ajustado à idade, sexo e fatores de risco, “é provável que tenha IC ou alteração estrutural cardíaca”. “Devemos fazer um eletrocardiograma, um ecocardiograma e avaliar outras doenças que mimetizam disfunção cardíaca, onde se englobam, por exemplo, a anemia ou a disfunção tiroideia.”

Atualmente, apesar de os peptídeos natriuréticos não serem comparticipados diretamente pelo SNS, o especialista revela que a ADSE já comparticipa esta avaliação. Indica, ainda, que a avaliação está disponível na maioria dos hospitais e é cada vez mais utilizada “em rastreios de doentes estáveis com diabetes”.

Segundo João Sérgio Neves, “tem havido muito trabalho por parte da especialidade de Medicina Geral e Familiar junto dos decisores”, no sentido de disponibilizar os peptídeos natriuréticos nos cuidados de saúde primários.

Durante a sessão, João Sérgio Neves abordou ainda os resultados do estudo PORTHOS, que permitiu avaliar a prevalência de IC a partir dos 50 anos em Portugal, correspondente a 16,5%. Deste valor, “mais de 90% dos casos diziam respeito a uma IC com fração de ejeção preservada (ICFEp)”.

O endocrinologista salientou que o desafio associado à ICFEp diz respeito aos sintomas. “Temos de ter ecocardiogramas muito claros para percebermos os sinais de ICFEp, e, cada vez mais, o diagnóstico é auxiliado pelos peptídeos natriuréticos.” Isto porque “se o doente apresenta um ecocardiograma normal, mas o valor de NT-proBNP se encontra marcadamente elevado, é muito mais fácil valorizar os sintomas”.

João Sérgio Neves realça que “o mais interessante do estudo PORTHOS é que 9 em cada 10 doentes não tinham conhecimento prévio de diagnóstico de diabetes”. “Outro aspeto que já sabíamos, e que se confirmou na população portuguesa, é que a IC é mais prevalente no sexo feminino, particularmente a ICFEp, e está associada ao envelhecimento”, conclui.

 

SO

Fotorreportagem

       

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