6 Set, 2021

Unidade de radioterapia abre cinco anos depois de ter sido equipada na Ilha Terceira

Governo regional diz que atraso se deveu a um rácio de casos insuficiente e a falta de radioncologistas.

Os Açores vão ter uma segunda unidade de radioterapia, que será inaugurada na segunda-feira, no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, cinco anos depois da instalação do equipamento no edifício.

“A máquina foi instalada na mesma altura em que foi instalada a de Ponta Delgada [São Miguel]. Inicialmente, o projeto previa que as duas máquinas fossem instaladas em São Miguel e houve aqui, por parte de ambas as partes, uma expectativa de perceber se os rácios e a incidência justificavam ou não ter dois centros de radioterapia abertos”, adiantou, em declarações à Lusa, diretor da Joaquim Chaves Oncologia, Guy Vieira.

A empresa, responsável pela prestação dos serviços de radioterapia na ilha Terceira, assegura também os mesmos tratamentos no Centro de Radioncologia Madalena Paiva, inaugurada em 2016, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

O Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira foi construído, em 2012, com um ‘bunker’, orçado em cerca de 1,5 milhões de euros, destinado à instalação de um serviço de radioterapia, mas a unidade acabou por ser instalada na ilha de São Miguel, a mais populosa do arquipélago, em 2016.

Governo regional diz que atraso se deveu a falta de casos e falta de radioncologistas

 

Na altura, o executivo açoriano (PS) anunciou uma segunda unidade de radioterapia para a ilha Terceira e o equipamento, que resultou de um investimento conjunto do Governo Regional e da empresa Joaquim Chaves, com recurso a fundos comunitários, foi instalado no Hospital de Santo Espírito, mas nunca chegou a funcionar.

O Governo Regional justificou o atraso do projeto, em 2018, com o rácio de casos e com a falta de radio-oncologistas, mas o novo executivo açoriano, da coligação PSD-CDS-PPM, que tomou posse em novembro de 2020, decidiu avançar com a unidade.

Guy Vieira admitiu que teria sido mais fácil instalar “as duas máquinas no mesmo local”, até porque a abertura de uma nova unidade “implica duplicação de recursos humanos”, mas justificou a decisão com a proximidade do serviço prestado.

“Chegámos agora à altura e percebemos pelos registos oncológicos que fazia sentido fazer esta abertura e este início de tratamento”, apontou.

As principais mais-valias desta unidade, segundo o diretor de oncologia, serão evitar que a população da ilha Terceira se desloque para fazer tratamentos de radioterapia e permitir que a população das restantes ilhas dos grupos Central e Ocidental dos Açores se possa deslocar para uma ilha que fique mais perto.

“Tem um impacto que eu diria que é quase imensurável”, salientou Guy Vieira, realçando que muitas vezes o doente tem de se deslocar para um “ambiente que lhe poderá ser agreste”, sem apoio familiar.

O tratamento de radioterapia demora cerca de 15 minutos por dia, mas prolonga-se, em média, por cinco a seis semanas.

A unidade instalada em Ponta Delgada, que iniciou a atividade em março de 2016, já tratou 1.733 doentes, uma média de 347 por ano.

Segundo Guy Vieira, não é possível prever com exatidão o número de doentes que serão tratados na ilha Terceira, até porque “a incidência do cancro tem aumentado de ano para ano”, mas o registo oncológico indica que cerca de metade dos doentes com cancro nos Açores está nas ilhas dos grupos Central e Ocidental.

“Sessenta a 70% dos doentes têm indicação para fazer radioterapia, seja numa fase inicial, no início do tratamento do cancro, associado ou não à quimioterapia, antes ou depois da cirurgia, mas também numa fase mais tardia, quando a doença progrediu e existem dores e hemorragias, nos casos paliativos”, revelou o médico.

A nova unidade de radioterapia terá uma equipa permanente de 15 funcionários, incluindo uma médica radio-oncologista contratada pelo hospital.

A maioria dos técnicos é natural da ilha Terceira, mas trabalhava em clínicas no continente português.

Com capacidade para tratar entre 80 e 90 doentes por dia, a unidade deverá ficar longe destes números, mas o diretor de oncologia sublinhou que a segurança do tratamento prestado “está garantida”.

“Se houvesse um número muito baixo de casos com indicação para radioterapia, a equipa que estivesse no terreno poderia não conseguir acumular experiência suficiente para nos dar essa garantia de segurança, no entanto, houve um esforço de todas as partes e vontade. Temos uma equipa super experiente, temos técnicos de radioterapia que vieram de várias instituições no continente”, salientou.

SO/LUSA

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