10 Dez, 2025

Um em cada sete portugueses com obesidade não reconhece ter a doença

Embora 35,5% dos participantes num estudo apresentem critérios de obesidade, apenas 20,45% afirmou ter a doença. Para os investigadores, este é um dado preocupante.

Um em cada sete portugueses com obesidade não reconhece ter a doença

Um em cada sete portugueses com obesidade não identifica que tem a doença, revela a 9.ª edição do estudo Saúde que Conta, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), que aponta para persistentes lacunas de conhecimento e níveis insuficientes de literacia em saúde.

Apesar de mais de 90% dos inquiridos reconhecerem a obesidade como uma doença crónica que requer tratamento, menos de metade (47,5%) sabe que o diagnóstico é definido por um Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30.

Em declarações à Lusa, a investigadora Ana Rita Pedro admitiu que este desconhecimento foi o dado mais surpreendente do estudo. Segundo explicou, a falta de reconhecimento pode dever-se a ausência de conhecimento, estigma e negação da condição de saúde ou, simplesmente, a baixos níveis de literacia.

Foram validadas 3.333 respostas recolhidas entre novembro de 2024 e fevereiro deste ano. Embora 35,5% dos participantes apresentem critérios de obesidade, apenas 20,45% afirmou ter a doença — um “hiato de perceção” que os investigadores consideram preocupante.

O estudo mostra também diferenças significativas entre a perceção social e a esfera pessoal. Quando questionados sobre situações sociais — como dar emprego a alguém com obesidade ou ter um amigo com obesidade — os inquiridos atribuem probabilidades elevadas. Já perante cenários mais íntimos, como um encontro amoroso ou confiar crianças ao cuidado de uma pessoa com obesidade, os valores diminuem consideravelmente.

A discriminação de género também sobressai nos resultados. “Estamos tradicionalmente mais confortáveis com o excesso de peso nos homens. Nas mulheres tendemos a ter um olhar mais crítico”, destacou Ana Rita Pedro, lembrando ainda o impacto das redes sociais e dos padrões corporais ali divulgados.

No que toca à literacia em saúde, o estudo conclui que as pessoas com obesidade apresentam níveis “tendencialmente mais baixos”, sendo que 54,1% possui níveis “problemáticos” ou “inadequados”. A investigadora recordou que o conceito vai muito além do acesso à informação: envolve compreender, avaliar e aplicar aquilo que se lê — competências que continuam a falhar, num contexto marcado pela desinformação online.

Apesar de uma evolução positiva na última década — em 2016 mais de 60% da população apresentava níveis negativos de literacia, valor que ronda agora os 45% —, Ana Rita Pedro defende que é necessário reforçar a presença de informação credível nas redes sociais, idealmente com a participação de profissionais de saúde.

“Devemos estar onde as pessoas estão, evitando que os espaços vazios na área da informação sejam ocupados por outros”, alertou, sublinhando que a grande dificuldade continua a ser a “literacia crítica”: a capacidade de distinguir evidência científica de estratégias de marketing. “Muitas vezes confundem-se, e temos plena consciência disso”, concluiu.

SO/LUSA

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