25 Nov, 2020

Teleconsultas cresceram 30% face ao volume total de consultas no acompanhamento oncológico

Estudo revela que, em quase metade dos serviços, as consultas de follow-up não foram adiadas, tendo-se optado pela realização de teleconsulta.

O início da pandemia de Covid-19 em Portugal levou a alterações no regime de consultas externas em todos os serviços de Oncologia do país e em mais de metade deles (57,1%) as teleconsultas tiveram um crescimento de 30 por cento face ao volume total de consultas. Estas são as principais conclusões do inquérito “Impacto da pandemia Covid-19 na Oncologia em Portugal” promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) junto dos Diretores de Serviço de Oncologia Médica, e que foi apresentado esta semana no 17º Congresso Nacional de Oncologia, que decorreu em formato virtual.

O estudo, que analisa a atividade nos meses de março e abril de 2020, revela que, em quase metade dos serviços, as consultas de follow-up não foram adiadas, tendo-se optado gradualmente pela realização de teleconsulta. Igual procedimento foi seguido para as consultas em doentes em terapêuticas oncológicas via oral, que não foram adiadas na quase totalidade dos Serviços (em 19 unidades), sendo a sua realização feita em teleconsulta, a forma preferencial a partir da 2ª quinzena de março.

A necessidade de reforço de recursos humanos é sublinhada neste questionário. Em quase todos os serviços de Oncologia existentes em Portugal Continental não foram recrutados profissionais de saúde nas várias categorias, desde médicos, profissionais de enfermagem, auxiliares de ação médica ou assistentes técnicos. O inquérito aponta ainda que, em mais de metade das unidades inquiridas, também não se verificou recrutamento de médicos oncologistas nas equipas especializadas na abordagem de Covid-19 (comissões de infeção, PAP’s, espaços dedicados a doentes suspeitos).

 

Testes regulares e entrevistas telefónicas de rastreio a doentes oncológicos

 

De acordo com conclusões deste inquérito, na larga maioria dos serviços analisados não houve escassez de material de proteção individual e houve formação em medidas de controlo de infeção e de proteção individual para os profissionais de saúde do serviço, logo a partir de março. Contudo, apenas em uma das 21 unidades que responderam a este inquérito foram feitos testes aos profissionais de saúde assintomáticos.

O estudo aponta que em quase metade dos serviços (47,6%) foi realizada entrevista telefónica de rastreio de sintomas suspeitos previamente ao tratamento oncológico, principalmente a partir da 2ª quinzena de março. E um terço já tinha feito essa entrevista telefónica logo a partir da 1ª quinzena de março.

Os inquiridos apontam que, em quase todos os serviços, foram realizados sistemáticos testes Covid-19 aos doentes sob quimioterapia assintomáticos, sobretudo a partir da 2.º quinzena de março. Em mais de metade dos serviços, foram feitos testes aos doentes internados, em diferentes fases, com a maioria a decorrer logo a partir da 1ª quinzena de março. A modalidade mais frequente foi a realização do teste antes de cada tratamento no caso dos doentes sob quimioterapia assintomáticos, ou, em segundo lugar, de acordo com os critérios de cada serviço.

Já sobre as medidas de atuação em doentes Covid-19 positivos, a maioria das instituições optou por manter os doentes nos respetivos serviços. Além de que em todas as instituições se verificou a criação de um serviço específico para doentes suspeitos com necessidade de internamento hospitalar a aguardar resultado de teste.

 

Todos os inquiridos referem alterações físicas do Serviço de Oncologia de ambulatório

 

Praticamente todos os inquiridos referem que se verificaram alterações físicas do Serviço de Oncologia de ambulatório, com a criação de circuitos de circulação dos doentes oncológicos, para permitir o distanciamento social, alterações na sala de espera e a criação de áreas de verificação para deteção precoce de pessoas potencialmente infetadas.

Entre os meses de março e abril foram ainda detalhadas outras alterações como a colocação de separadores de proteção nos pontos de interação: gabinetes de serviço e área de atendimento, a redução do número de unidades de tratamento com maior distanciamento entre as restantes e a criação de áreas de contenção com circuito e equipamentos adequados para receber doentes não suspeitos, mas que aguardavam resultado de teste. A maioria dos serviços suspendeu os acompanhantes dos doentes nas consultas externas, logo a partir da 1ª quinzena março.

O inquérito sobre o impacto da pandemia na Oncologia em Portugal também mostra que mais de metade das instituições optou por interromper o recrutamento para ensaios clínicos, entre a 1ª quinzena de março e abril. Quase a totalidade optou pela monitorização destes ensaios por videoconferência, mas a larga maioria não adiou as visitas obrigatórias dos ensaios clínicos.

Das 21 unidades que responderam a este inquérito metade (52,4%) pertence a um hospital central do SNS e a larga maioria (71,4%) está num serviço integrado numa instituição dedicada Covid-19.

Para Ana Raimundo, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, “estes resultados vêm mostrar que os doentes diagnosticados com cancro em Portugal continuaram a ser tratados, mesmo em pleno período pandémico, graças aos esforços dos serviços oncológicos que, sem terem verificado recrutamento extra, fizeram as adaptações necessárias para dar resposta a esta pandemia. Neste contexto, ressalvamos a necessidade de criação de uma via verde do cancro que pode ajudar a melhorar a resposta aos doentes oncológicos, reduzindo os tempos de espera que se vão somando entre a primeira ida ao médico, o diagnóstico e o início do tratamento devido aos constrangimentos criados pela Covid-19.”

SO/COMUNICADO

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