Solidão: a doença esquecida dos idosos
Internista na ULSM/Vice-presidente da AMIDI

Solidão: a doença esquecida dos idosos

“O intervalo de tempo entre a juventude e a velhice é mais breve do que se imagina. Quem não tem prazer ao penetrar no mundo dos idosos não é digno da sua juventude (…) o ser humano morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir importante.”

(Augusto Cury, in O Vendedor de Sonhos)

 

Envelhecer traduz um processo inevitável e, infelizmente, associado a uma imagem de perda de autonomia e maior vulnerabilidade. Ser velho comporta ter doenças, ficar doente e acima de tudo sentir-se doente. Perante esta imagem, muitos idosos sentem que “são um peso” para os seus familiares e pouco úteis para a sociedade.

Relativamente aos dados existentes e reportados pelo SNS, cerca de 26,8% dos adultos com mais de 85 anos expressam sentimentos de solidão, sendo esta percentagem maior em indivíduos viúvos ou solteiros. De acordo com a Operação “Censos Sénior 2023” da GNR, mais de 44.000 idosos portugueses vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, em razão da sua condição física, psicológica.

A solidão entre os idosos é um tema de grande relevância, pois reflete não apenas um estado emocional, mas também uma questão social e de saúde. À medida que as pessoas envelhecem enfrentam mudanças significativas nas suas vidas, como a perda de cônjuges, amigos e familiares, o fim da vida profissional e até mesmo o aparecimento de doenças, condicionando menor mobilidade física. Estes fatores podem contribuir para um aumento do isolamento social e da solidão entre os idosos.

Um dos principais desafios enfrentados pelos idosos é a perda de redes sociais e de apoio. À medida que os amigos e familiares envelhecem, morrem ou se afastam, os idosos podem ver-se cada vez mais isolados, com poucas oportunidades de interação social significativa. Sabemos que existem idosos em cidades que vivem sozinhos em prédios sem elevador, em situação de dependência física, ficando completamente isolados e sós. Existem algumas respostas para alimentação, higiene nestes idosos mas faltam respostas para o isolamento social e solidão.

Mesmo quando estes idosos recorrem aos recursos de saúde, a institucionalização não pode ser a única opção uma vez que acarreta outras questões como desenraizamento, alteração de rotinas/regras.

A solidão não afeta apenas o bem-estar emocional, mas também contribui para consequências negativas na saúde física. A solidão associa-se a maior risco de depressão, ansiedade, patologia cardiovascular, défice cognitivo e aumento de mortalidade. Por outro lado, conduz a hábitos menos saudáveis como dieta inadequada e sedentarismo.

É necessário reconhecer a solidão entre os idosos como um problema e de que existem maneiras de ajudar a mitigá-la. Iniciativas comunitárias, como grupos de apoio, centros de atividades e programas de voluntariado, podem proporcionar oportunidades de interação social e apoio emocional. Ao fazer isso, podemos ajudar a garantir que os idosos desfrutem de uma melhor qualidade de vida, se sintam novamente importantes e integrados nas suas comunidades.

 

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