30 Out, 2025

Serviço Médico à Periferia foi uma “revolução silenciosa” há 50 anos

O Serviço Médico à Periferia funcionou entre 1975 e 1982 e é amplamente considerado o embrião do SNS. A conferência desta quinta-feira conta com a presença de diversas personalidades ligadas à saúde e à política.

Serviço Médico à Periferia foi uma “revolução silenciosa” há 50 anos

No âmbito da conferência que lembra o tempo do Serviço Médico à Periferia, o psiquiatra António Leuschner recorda que, há 50 anos, internar um doente por motivos psiquiátricos em regiões como Vila Real significava, muitas vezes, percorrer mais de 100 quilómetros até ao Porto — uma distância que dificultava o apoio familiar e resultava em internamentos prolongados, por vezes durante décadas. “Na área da saúde mental, isso era muito evidente: a pessoa era deslocada do seu meio, e a família começava por visitá-la uma vez por mês, depois uma ou duas vezes por ano, até deixar de ir. Alguns doentes ficavam internados décadas”, recorda o médico.

O testemunho de Leuchner será um dos que marcam a conferência “50 Anos do Serviço Médico na Periferia: Uma revolução silenciosa que transformou a saúde em Portugal”, que decorre hoje no ISCTE, em Lisboa, promovida pela Fundação para a Saúde – SNS. Segundo o clínico, o Serviço Médico à Periferia teve um papel essencial na descentralização dos cuidados de saúde e na preparação do terreno para a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Havia muitas lacunas. O direito à proteção na saúde estava em falta. No distrito de Vila Real, por exemplo, só havia um psiquiatra”, sublinha.

Entre 1976 e 1977, Leuchner integrou um grupo de 14 médicos que prestava consultas nas Casas do Povo e assegurava urgências nos hospitais locais dos concelhos de Vila Pouca de Aguiar, Murça, Alijó, Santa Marta de Penaguião, Sabrosa e Ribeira de Pena. “Foi mais uma perda do que um ganho acabar com o Serviço Médico na Periferia”, defende o médico, que ainda hoje exerce pro bono uma vez por semana. “Perdeu-se a possibilidade de expandir o conceito de descentralização e de criar equipas multidisciplinares que conhecessem a realidade local.”

Leuchner acredita que a experiência do SMP merece ser revisitada: “Valeria a pena recriar essa ideia, atualizada — não apenas enviando médicos para locais específicos, mas equipas de saúde completas que pudessem intervir no terreno.”

O Serviço Médico à Periferia funcionou entre 1975 e 1982 e é amplamente considerado o embrião do SNS. A conferência desta quinta-feira conta com a presença de diversas personalidades ligadas à saúde e à política, entre as quais Maria de Lurdes Rodrigues, Ana Jorge, Raquel Varela, Maria de Belém Roseira e António Correia de Campos.

SO/LUSA

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