Sobre a Enfermagem Notas Soltas para uma Saúde Mais Coesa
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Sobre a Enfermagem Notas Soltas para uma Saúde Mais Coesa

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Grupo Lusíadas Saúde
Director Geral da InfoCiência

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Pontos prévios.

Sou médico.

Tenho uma filha enfermeira.

Exposto este “conflito de interesses”, importa dizer que estes dois factos não excluem um terceiro: ao longo de toda a minha vida profissional, com trinta anos, sempre mantive uma ligação de proximidade, de parceria, de cumplicidade e de amizade com enfermeiros, auxiliares, administrativos, porteiros, no fundo com todos os que compõem os espaços de saúde e de ensino por onde passei.

Esta afirmação não pretende encerrar quaisquer laivos de superioridade moral ou cívica. Coloco-a aqui por ser verdade, por ser tão verdade como afirmar que sou médico e que tenho uma filha enfermeira. E coloco-a aqui porque me parece ser um bom ponto de partida para as linhas que se seguem.

A Enfermagem, do mesmo modo que a Medicina, é uma profissão complexa, de crescente diferenciação técnica, que requer uma constante actualização de conhecimentos, que implica uma tremenda responsabilidade e responsabilização pelos actos práticos ou omitidos e que só pode/deve nascer de uma vontade interior de servir e ajudar aqueles que, por doença ou trauma, se encontram numa condição de menoridade física e/ou psicológica.

As licenciaturas em Enfermagem em Portugal são de enorme qualidade, facto prontamente reconhecido fora das nossas fronteiras, para onde os enfermeiros portugueses são avidamente
requisitados e correspondentemente pagos, mas sistematicamente ignorado pelo sistema de saúde português público e privado, onde os enfermeiros continuam a ser vistos como elementos
secundários, tratados com desdém, sobrecarregados nas suas tarefas e pagos muito abaixo do razoável e justo.

Parece que esta lamentável tradição já assumiu um traço cultural no nosso país, quase identitário, do qual não somos capazes de nos libertar.

Os exemplos são maus, péssimos, e vêm dos dois lados. Médicos que entram e saem numa Enfermaria de cabeça baixa, escrevem as suas notas clínicas e não dirigem uma palavra aos
enfermeiros presentes. Médicos que interrompem o trabalho em curso dos enfermeiros para que as suas necessidades sejam prontamente satisfeitas. Inversamente, enfermeiros que consideram que os médicos não sabem tratar os doentes e que não se preocupam com eles. Professores em Escolas de Enfermagem que estimulam este atrito entre as duas profissões, clamando que “quem cuida são os enfermeiros”.

Este clima de “guerra fria” não tende a dissipar-se, pelo contrário, assume-se como um círculo vicioso alimentado por atitudes de desconfiança, desconsideração, rancor e de pretensa superioridade de parte a parte.

Não existem aqui inocentes nem culpados e, felizmente, inúmeros exemplos existirão de relações profissionais de enorme reciprocidade, de verdadeiro espírito de equipa, onde cada elemento sabe o seu lugar mas, sempre que as condições o exigem, esses lugares se dissipam e todos fazem o que for necessário, num espírito de entreajuda, como se de um único organismo se tratasse, respirando e agindo como um só, em nome do objecto último do seu trabalho: o doente.

Mas, num quadro mais global, muito tem ainda de ser feito.

Para lá das óbvias questões remuneratórias, em que os sectores privado e público continuam a procurar reter os enfermeiros com vencimentos vergonhosos face ao seu grau de diferenciação e procuram compensar a não contratação de novos e indispensáveis elementos sobrecarregando os existentes a troco, não do pagamento das merecidas horas extraordinárias, mas de “bolsas de horas”, para lá dessas questões essenciais, o foco tem de ser colocado na percepção que cada profissional da saúde tem de si mesmo, dos seus pares e dos restantes intervenientes em todo o processo.

Como já escrevi há alguns anos, um médico não o pode ser em pleno sem os enfermeiros, estes não poderão trabalhar sem médicos, nenhum deles será eficiente sem auxiliares e administrativos. A saúde é uma área complexa, extremamente delicada, em que o objecto da actividade são pessoas como nós e onde o sucesso ou fracasso dessa actividade implica, pode implicar, a vida ou a morte, com muitas variações pelo meio.

Os médicos não sabem mais do que os enfermeiros. Sabem coisas diferentes. E os enfermeiros não cuidam melhor do que os médicos. Cuidam de modo diferente.
Ninguém é melhor do que ninguém. Tratar um paciente nunca poderá ser um exercício de vaidade ou uma competição para ver quem faz mais e melhor. Tratar um paciente deverá ser sempre um
acto de profunda humildade, de enorme rigor técnico associado a um componente afectivo que, tantas vezes, pode fazer a diferença.

Tratar um doente implica a concentração de todos os recursos disponíveis, técnicos e humanos e, dentro destes, todos os profissionais são elementos de uma orquestra que deve actuar em
harmonia.

Falei recentemente sobre a satisfação e bem-estar dos médicos e muito do que escrevi se aplica na perfeição à Enfermagem e a outros profissionais. Acredito, sinceramente, que os Enfermeiros em Portugal têm inúmeras razões para não se sentirem bem. E isso tenderá a afectar o seu trabalho. A valorização do trabalho dos enfermeiros é essencial e inteiramente merecida. A mudança do paradigma vigente em Portugal, que secundariza o papel e a dignidade dos enfermeiros, tem de ocorrer e, para que tal aconteça, importa que as organizações, os médicos e os próprios enfermeiros entendam o seu papel, reconheçam as suas competências e criem Unidades de Saúde que sejam verdadeiramente unidas.

Comecei por escrever que, ao longo de trinta anos, sempre me relacionei de igual para igual com colegas, enfermeiros, auxiliares e administrativos. E escrevi também que não mencionei esse facto para assumir qualquer forma de superioridade.

No fundo, sempre me comportei assim por saber que todos dependemos de todos.

Mas, sobretudo, sempre me comportei assim por uma questão de educação.

Talvez muitos dos problemas aqui mencionados passem também por aí. Pela educação, não no seu sentido de formação académica, mas no seu significado mais original…

Em boa verdade, é por aí que tudo começa. Ou não.

Nota: Texto escrito na grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990, por opção do autor

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