21 Mar, 2023

“Os desafios da longevidade não podem ser entendidos apenas ao nível do sistema de saúde”

Jorge Lima, Fundador da Unipeer Solutions, é o responsável pela organização da LONGEVITY MED SUMMIT, que terá lugar nos dias 4 e 5 de maio, em Lisboa. Em entrevista, realça vários pontos que considera essenciais para um envelhecimento saudável e que não se cingem ao setor da saúde.

Que desafios traz o aumento da longevidade ao sistema de saúde?

Escolhido pelas Nações Unidas como o tema da década (2021-2030), face aos desafios levantados pelo ritmo acelerado do envelhecimento da população, nomeadamente no conjunto dos países da UE, o conceito de envelhecimento saudável suscita cada vez mais desafios económicos e sociais às sociedades modernas. O facto de a esperança média de vida aumentar implica novos caminhos, soluções inovadoras, diria até mesmo disruptivas, que deem resposta às adaptações urgentes no sentido de melhorar o bem-estar das populações. Os desafios da longevidade, principalmente os ligados à vida e bem-estar das populações, não podem ser entendidos apenas ao nível do sistema de saúde. A longevidade e o envelhecimento irão impactar de forma transversal todos setores, com implicações diretas na economia, nos serviços, no consumo e nas infraestruturas, bem como nas políticas públicas e empresariais. Todavia, refletindo sobre o sistema de saúde, a existência de plataformas móveis e de novos dispositivos à distância, ou seja, o surgimento de novas tecnologias para dar resposta ao envelhecimento populacional, longevidade associada à mobilidade – com o natural acréscimo de custos – são alguns dos principais desafios que se impõem ao sistema de saúde.

“Entre 2015 e 2020, Portugal registou uma taxa de crescimento médio anual do índice de envelhecimento” da ordem dos 3,6%, o ritmo mais acelerado dos países da UE”

Como avalia a aposta do governo e de outros players em infraestruturas e outras respostas para os mais idosos?

De acordo com um estudo realizado pela organização norte-americana, Aging in Place, baseado em dados da OCDE, Portugal é um dos países da União Europeia em que o índice de envelhecimento tem crescido de forma mais acelerada.  Segundo o estudo, a lista é dominada pelo Japão (28,79%), em Portugal, a taxa de população com mais de 65 anos fixa-se nos 22,29%, mas a tendência é que continue a crescer. Entre 2015 e 2020, Portugal registou uma taxa de crescimento médio anual do índice de envelhecimento” da ordem dos 3,6%, o ritmo mais acelerado dos países da UE.  Neste sentido, a aposta do Governo português está em que os idosos tenham um período de dependência cada vez menor no final da vida. Este é um compromisso que já foi assumido em toda a sua amplitude pelo Governo que, por sua vez, tem procurado encontrar respostas que respeitem as escolhas e a participação ativa dos cidadãos. Consideramos que a melhoria da resposta ao envelhecimento da população deve ser feita através de uma aposta nas novas tecnologias, porque o objetivo é assegurar um envelhecimento com qualidade de vida, saúde e bem-estar. As políticas públicas têm assim um papel preponderante, sobretudo no âmbito da criação de infraestruturas. É fundamental promover ambientes inclusivos para que todas as pessoas usufruam do espaço público: a necessidade de aumentar o tempo de passagem nas passadeiras de peões, os cuidados domiciliários, a formação dos profissionais nos lares são alguns exemplos nas respostas que podemos dar aos mais seniores e que farão toda a diferença. E ainda as necessárias alterações no sistema de transportes que assegurem às pessoas idosas condições de mobilidade e autonomia que assegurem um envelhecimento ativo.

 

Portugal está bem preparado para enfrentar um envelhecimento acelerado?

O envelhecimento da população é uma realidade em Portugal e tende a agravar-se no futuro, uma vez que os indicadores demográficos apontam para um crescimento da população idosa e consequentemente uma redução da população jovem. Tendo em conta este desafio e por forma a enfrentar o envelhecimento acelerado, Portugal tem procurado criar uma estratégia para promover um envelhecimento ativo e saudável, nomeadamente através de políticas que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos mais idosos. Neste âmbito, foi proposta a Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável para o período 2017-2025, em linha com o Plano Nacional de Saúde, com a Estratégia e Plano de Ação Global para o Envelhecimento Saudável da Organização Mundial da Saúde   e   com a   Agenda   2030   para   o   desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Todavia, é necessário consciencializar a sociedade dessa realidade. Como? Reunindo especialistas de diversos setores, de diferentes áreas de atuação – desde a medicina, investigação, economia, segurança social, educação – por forma a promover um debate de ideias que deem resposta às necessidades dos cidadãos. A partir dessas estratégias, Portugal estará com certeza mais capacitado para implementar medidas no setor da saúde que, permitam lidar com o envelhecimento acelerado. Integrar os idosos nas atividades da sociedade, reduzir a exposição aos riscos evitando a mortalidade prematura (antes dos 70 anos), apostar na formação de profissionais de saúde especializados nesta área, promover a saúde mental na população idosa, evitando o isolamento e o estigma da sociedade, são alguns dos desafios que Portugal tem pela frente nos próximos anos relativamente ao envelhecimento ativo.

“… a LONGEVITY MED SUMMIT vai reunir cientistas líderes mundiais, médicos de diversas especialidades e investidores, todos no mesmo palco”

Que expectativas tem em relação ao LONGEVITY MED SUMMIT?

A LONGEVITY MED SUMMIT é o maior evento na área da medicina de longevidade a nível mundial, irá reunir investidores que no seu conjunto somam mais de 10 mil milhões de USD, tendo Portugal como país anfitrião. A LONGEVITY MED SUMMIT assume-se como uma plataforma de conhecimento e soluções para o tratamento de doenças ligadas ao envelhecimento. Durante dois dias intensos de realização, a LONGEVITY MED SUMMIT será palco importante para fóruns de discussões e apresentações que combinam ciência, aplicações práticas e propostas de investimentos para o setor da saúde. Portugal, enquanto país anfitrião deste Summit, reforça a sua aposta como Hub de investimento na economia da longevidade. Vamos receber alguns dos maiores investidores e fundos de investimento internacionais, contaremos com a presença dos mais conceituados profissionais nas áreas da investigação, pesquisa, medicina regenerativa e terapias, até à nutrição.  A título de exemplo, Aubrey de Grey, Biomedical Gerontologist, Michael Sagner, Diretor da European Society of Preventive Medicine, Garri Zmudze, Investidor do Fundo LongVC e Coordenador Executivo da Longevity Science Foundation, Eric Verdin, Presidente e CEO do Buck Institute for Research on Aging ou Cláudia Cavadas, Diretora do Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra. Estes e outros profissionais irão promover um debate que se assume cada vez mais prioritário quando se discute o tema da saúde e do envelhecimento: como promover a longevidade humana saudável, como lidar com os desafios do envelhecimento humano, quais as soluções mais inovadoras.  Será, certamente, uma oportunidade única de conhecer e dar-se a conhecer, a outros pares e líderes de mercado.

O que poderá sair da discussão?

Ao fomentar um debate que se assume cada vez mais prioritário quando se discute temas sobre saúde e longevidade, a LONGEVITY MED SUMMIT vai reunir cientistas líderes mundiais, médicos de diversas especialidades e investidores, todos no mesmo palco, e focados em desafiar a epidemia de doenças crônicas, entre outros importantes temas para transformar a investigação da longevidade em tratamentos e medicamentos prescritíveis. O tema central deste ano será “O FUTURO DA MEDICINA: ELIMINANDO DOENÇAS DO ENVELHECIMENTO” e tem como objetivo reunir todo o ecossistema da saúde para enfrentar o problema mundial de doenças associadas ao envelhecimento.

SO

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