6 Abr, 2018

OMS alerta que a saúde precisa de profissionais motivados e de estratégias contra efeitos da crise

O relatório de peritos internacionais, feito a pedido do ministro da saúde, defende também que deveria ser devolvida a autonomia aos hospitais para contratar e fazer compras. Ministro da Saúde garantiu de imediato que vai começar a começar a fazer essa reversão até ao verão.

Uma avaliação de peritos internacionais considerou que o sistema de saúde português precisa de “estratégias a longo prazo” para combater as consequências da crise financeira nas famílias portuguesas, de reverter a centralização então iniciada e de profissionais mais motivados.

O relatório “Health System Review – Portugal”, elaborado por peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa e do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, foi apresentado esta sexta-feira em Lisboa, na presença do ministro da Saúde, que solicitou a elaboração do documento.

De acordo com o relatório, o sistema de saúde português necessita de “estratégias de longo prazo para enfrentar as consequências para a saúde da privação familiar, desemprego e pobreza infantil que foram exacerbadas durante a crise financeira”.

Outra consequência da crise que os especialistas internacionais gostariam de ver revertida é a centralização que se regista desde então e que restringiu a autonomia dos hospitais no que diz respeito à contratação de profissionais e equipamentos médicos. No final da apresentação do relatório, o ministro da Saúde, que esteve presente, garantiu que vai apresentar até ao verão propostas para devolver autonomia aos serviços de saúde para contratarem recursos humanos e fazerem compras. Adalberto Campos Fernandes que a crise e a “exaustão financeira” comprometeram o investimento público na saúde, mas que retomar esse investimento e ter bons serviços públicos só é possível com “contas públicas rigorosas e equilibradas”.

Segundo Hans Kluge, especialista em saúde pública e representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) neste trabalho, Portugal não está sozinho num conjunto de problemas que assolam outros países, como o envelhecimento da população e as comorbilidades. O relatório alerta que “a maioria dos utentes do SNS tem uma ou mais doenças crónicas, que têm grandes implicações na prestação dos serviços de saúde”. Assim, a OMS afirma que o aumento da prevalência das comorbilidades requere mais atenção, de modo a melhorar a qualidade de vida dos doentes.

Os peritos recomendam que sejam levados a cabo ações para promover a esperança média de vida com qualidade, principalmente entre as mulheres idosas. Portugal compara mal, há vários anos, com os países mais desenvolvidos da Europa no que diz respeito aos anos de vida com qualidade depois dos 65.

O especialista alertou para as “dramáticas” consequências de doenças como a obesidade e a hipertensão, tendo deixado alguns elogios à forma como o sistema de saúde tem encarado problemas com o álcool e o tabaco.

Para Hans Kluge, o grande desafio do SNS deve ser “colocar o interesse das pessoas no centro do sistema”.

A mesma ideia foi deixada por Charles Normand, professor universitário irlandês, para quem a saúde em Portugal atravessa dois desafios, relacionados com a idade da população e as várias doenças crónicas.

Sobre a crise financeira e o impacto do programa de intervenção da troika, este académico referiu que “Portugal pode estar orgulhoso”. “Os problemas poderiam ter sido maiores sem a intervenção da troika”, disse.

Charles Normand chamou a atenção para o desânimo que afeta os profissionais de saúde, com reflexos na sua atuação, defendendo por isso maiores incentivos.

Os autores do documento sublinham que as dificuldades financeiras ainda são um entrave no acesso de alguma população aos serviços de saúde.

Outro sinal que o documento deixa vai no sentido da necessidade de investimento nas infraestruturas, o que poderá passar pelo recurso às parcerias público-privadas.

LUSA/ SO

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