Não afoguem os líderes em saúde que emergiram desta crise
Médico e cofundador da nobox

Não afoguem os líderes em saúde que emergiram desta crise

Quando falamos de liderança, normalmente os grandes componentes onde podemos atuar são na equipa ou no líder. Contudo, esta crise veio virar do avesso o 3º elemento: o contexto, que normalmente muda mais paulatinamente.

Esta reconfiguração veio trazer novas exigências e restrições externas, exigindo de todas as equipas novos conhecimentos e competências para conseguirem cumprir o seu propósito, cuidar.

Conhecimentos e competências como literacia digital, capacidade de decisão em clima de incerteza, resiliência e inteligência emocional, ou comunicação interna e externa durante tempos de crise, revelaram-se fundamentais nesta pandemia e fizeram emergir líderes outrora desencantados ou mesmo escondidos, chamados pela necessidade imposta pelo momento.

Muitos destes não eram sequer líderes formais no momento, mas a ocasião fez o capitão.

Em tempo de necessidade, muitos se chegaram à frente e levaram as suas equipas com eles. Qualquer um de nós que trabalhe em cuidados de saúde, consegue neste momento identificar pelo menos uma dessas pessoas na sua equipa (aproveita e reconhece-o!).

Eles superaram-se e ajudaram a que toda a equipa se superasse, contribuindo para manter os níveis de energia e a motivação, sempre com o foco nos resultados.

Mas o pós-crise pode ser perigoso para estas pessoas se nada for feito. O pós-crise pode ser frustrante se o talento demonstrado não for alimentado e aproveitado. O pior que podemos fazer agora a quem se superou durante a crise é pedir-lhes para voltar exatamente ao sítio onde estavam e ao que faziam. É como pedir a alguém para esquecer algo que aprendeu e voltar à ignorância. Além da frustração individual, é também um desperdício para a organização e para o sistema de saúde, pois poderão ser estes os líderes capazes de impulsionar a tão necessária reforma na saúde.

A melhor parte é que não é assim tão difícil identificar e apoiar estes novos líderes. Basta primeiro tomar consciência desta necessidade – infelizmente, o passo mais difícil – e depois investir tempo para garantir o contínuo desenvolvimento destes profissionais com novas oportunidades, mais autonomia e responsabilidade e novos níveis de confiança e reconhecimento genuínos.

As organizações hoje em dia gastam milhares de euros em programas de recrutamento e gestão de talento à procura destas pessoas. Uma tempestade fê-las vir à tona. Agora cabe a cada líder e à sua equipa garantir que não submergem novamente.

 

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