Médico geriatra João Gorjão Clara defende uso de hidroxicloroquina em lares

O médico especialista em geriatria defende que seja utilizada nos lares, em idosos com covid-19, a mesma medicação que é dada nos hospitais.

É preciso tomar uma atitude positiva e atuante, em vez de simplesmente estar fechado em casa à espera que [a doença] passe ou a tratar os doentes com sintomas com paracetamol e esperar que a situação se agrave e que vão para o hospital a seguir, onde chegam com três ou quatro dias de evolução, e numa situação muito mais débil e mais difícil de controlar do que se a situação fosse abordada logo no inicio”, disse à Lusa o médico.

João Gorjão Clara, médico cardiologista e membro do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna, referia-se à associação de hidroxicloroquina com azitromicina, terapêutica ainda sem evidência científica que permita concluir da eficácia indiscutível em covid-19, porque a doença é muito recente, mas com evidência empírica, de tal modo que é a terapêutica usada nos hospitais, para os casos internados.

 

Ensaios mostram que hidroxicloroquina consegue “reduzir o tempo da doença e evitar a progressão”

 

Por isso mesmo, e perante o flagelo das mortes de idosos em lares, o especialista não entende a resistência em utilizar a terapêutica nesta população, sublinhando que alguns pequenos ensaios já tem demonstrado que consegue “reduzir o tempo da doença e evitar a progressão da doença para uma situação muito mais grave, que é a da falência multiorgânica”.

“Esse trabalho, contestado porque não cumpre as regras da boa prática da investigação médica, tem sido referência e usado e replicado em muitos sítios do mundo com eficácia. Se nós não temos evidência científica suficiente para que possamos usar com segurança esta associação medicamentosa e este tratamento, o que é um facto é que é isso que se faz nos hospitais. Neste momento, o protocolo hospitalar para o tratamento dos doentes que lá chegam com covid-19 e sintomas é a associação dos dois fármacos”, afirmou o médico.

Essa tem sido a sua “luta”, porque não consegue compreender por que é “preciso chegar ao hospital para fazer essa terapêutica” e “por que é que não a usam cá fora e mais cedo”, ainda para mais sendo de fácil administração.

Não é preciso injeções, nem pôr soro a correr, nem fazer administrações endovenosas, é dado por via oral, qualquer  pessoa consegue fazê-lo com facilidade, em qualquer sitio. Particularmente, pode ser administrado aos velhos que estão nos lares e que não têm tido este tipo de abordagem terapêutica”.

Na opinião do médico, essas pessoas deviam começar já a ser tratadas, com controlo médico, através de “equipas médicas devidamente protegidas”, que se deslocassem aos lares, que definissem quais os casos de covid-19 positivos, que os separassem dos outros utentes e que começassem a fazer a terapêutica.

“É preciso ter coragem de o fazer e arranjar [os medicamentos] em quantidade suficiente, que neste momento é difícil, para começar a atuar de maneira ativa e não ficar sentados a fazer paracetamol à espera que os doentes se agravem e depois encham as camas dos hospitais. Se o fármaco for eficaz, estamos a poupar vidas e a evitar que entrem doentes em catadupa nos hospitais, se não for, paciência, teve-se atitude ativa e não se perdeu tempo, que é o que está a acontecer”, lamentou.

 

Riscos cardíacos não têm fundamento, diz o médico

 

Questionado sobre os riscos que a hidroxicloroquina pode ter para o coração, que tem sido uma das razões apontadas para justificar que se evite a sua utilização, o médico cardiologista afirma que é uma argumentação que “não colhe”, porque esse medicamento “foi prescrito durante anos” aos soldados que iam para áfrica e aos residentes portugueses em África, “todos faziam hidroxicloroquina”.

Hoje, qualquer pessoa que viaja para a Índia ou África e for à consulta do viajante, é-lhe prescrita essa medicação profilática por causa da malária, antes, durante e depois, e “ninguém se preocupa se vai fazer uma morte súbita”, acrescentou.

A hidroxicloroquina, num número restrito de pessoas que tem uma determinada alteração congénita na condução elétrica ao nível do coração, pode provocar morte súbita, mas é um numero muito pequeno, e muito pequeno que nunca serviu de argumento para que os soldados não tomassem ou os residentes que lá viviam e que começaram a fazer em crianças e fizeram sempre, até virem para Portugal, durante 20 ou 30 anos sem que esse problema alguma vez se tivesse posto. É um falso argumento, não há nenhum medicamento que não tenha ações secundárias, e essa é rara”.

Quanto à azitromicina, é um antibiótico que todos os médicos usam há muito tempo para tratar infeções do trato respiratório, acrescentou.

Na opinião do especialista, o que sustenta a resistência ao uso da associação terapêutica para a covid-19 fora do meio hospitalar são os argumentos da evidência cientifica e os de ordem económica.

No primeiro caso porque, nos últimos anos a intervenção médica baseia a administração de terapêutica farmacológica em grande ensaios duplamente cegos e com amostra randomizada (medicina baseada na evidência), o que neste caso não aconteceu.

O segundo argumento prende-se com a falta de hidroxicloroquina no mercado para fazer face à pandemia, uma vez que a quantidade produzida é para doenças nas quais é atualmente utilizada, como é o caso da artrite reumatoide ou as autoimunes lúpus e síndrome de Sjögren.

SO/LUSA

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