Mais de um milhão de cancros ficaram por diagnosticar na Europa durante a pandemia
Para além disso, metade dos dois doentes oncológicos não recebeu o tratamento que necessitava durante a pandemia, estima a Organização Europeia do Cancro.
Mais de um milhão de cancros podem ter ficado por diagnosticar na Europa e um em cada dois doentes oncológicos não recebeu o tratamento que necessitava durante a pandemia da covid-19, estima a Organização Europeia do Cancro (OEC).
Os dados foram apresentados numa conferência `online´ pelo presidente da OEC, Matti Aapro, que serviu para o lançamento em Portugal da campanha europeia “Time To Act: Não deixe que a covid-19 o impeça de enfrentar o cancro”, que pretende sensibilizar os governos para retoma da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
De acordo com o responsável da OEC, que congrega 36 organizações profissionais da área da saúde e outros 20 grupos de defesa dos doentes, um em cada cinco doentes oncológicos ainda não está a receber o tratamento de quimioterapia ou a intervenção cirúrgica de que necessita, um atraso que se deveu à pandemia, que levou ainda ao cancelamento de cerca de 100 milhões de rastreios na Europa.
O impacto da covid-19 originou também que quatro em cada 10 profissionais de saúde da área da oncologia apresentassem sintomas de esgotamento e três em cada 10 sinais de depressão.
Nesta conferência, a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) adiantou que um recente estudo em 61 de países e envolvendo 20 mil doentes permitiu concluir que o tipo de confinamento atingiu de forma diferente os pacientes oncológicos.
Segundo Ana Raimundo, um em cada sete doentes oncológicos não foram submetidos à cirurgia que estaria indicada durante o confinamento total, o que representa 15% dos doentes.
Nos países com confinamento intermédio, o atraso ou não realização de cirurgias chegou aos 5%, enquanto nos países que não fizeram confinamento, mas adotaram algumas restrições, foi inferior a 1%.
Em relação a Portugal, a presidente da SPO alertou que é necessário um maior conhecimento dos dados de atrasos e cancelamentos específicos de cirurgias oncológicas.
“É o conhecimento destes dados que nos pode ajudar a um planeamento e organização coordenada dos cuidados de saúde”, salientou Ana Raimundo, que defendeu ainda a “criação de uma via de cirurgia eletiva para o cancro”.
“Não podemos tratar a cirurgia oncológica da mesma forma que outro tipo de cirurgias. Nem mesmo dentro da cirurgia oncológica, todas são prioritárias ou fundamentais”, salientou a especialista.
Numa mensagem gravada, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde reconheceu que o número de pessoas rastreadas no âmbito dos três programas – mama, colo do útero e cólon e reto – sofreu em 2020 uma quebra de cerca de 50%, mas assegurou que a recuperação já está a decorrer.
“Verifica-se um aumento do número de pessoas convidadas e rastreadas, com particular destaque para o rastreio do cancro do cólon e reto, que duplicou o número de utentes rastreados em comparação com 2019”, assegurou Lacerda Sales.
O secretário de Estado adiantou ainda que a Estratégia Nacional Contra o Cancro 2021-2030 “está a ser ultimada e vai estar totalmente alinhada com o plano europeu”, incidindo em quatro eixos: a prevenção, a deteção precoce, o diagnóstico e tratamento e a melhoria da qualidade de vida.
LUSA
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