Lúpus. “Seria muito importante ter um tratamento que permitisse a remissão prolongada”
Luís Inês, médico reumatologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), é o novo Presidente-Eleito da SLEuro – European Lupus Society para o biénio 2023-2024. Irá assumir a função de Presidente no biénio 2025-2026. Ao SaúdeOnline fala sobre o impacto do lúpus.
É desde o início o ano Presidente Eleito da Sociedade Europeia de Lúpus. O que o levou a abraçar este desafio?
É uma área médica dentro da Reumatologia à qual me tenho dedicado, quer na clínica como na investigação. Estou envolvido na Sociedade também há vários anos, fui eleito para primeiro mandato como secretário-geral e depois fui reeleito para um segundo. Após esta experiência, candidatei-me. Espero contribuir ainda mais para esta Sociedade, nomeadamente realizando eventos científicos. Exemplo disso é o Congresso Europeu de Lúpus que vai decorrer em 2026, em Lisboa. Será um momento importante para alertar para esta doença.
Que impacto pode ter a sua eleição no combate a esta doença em Portugal?
Espero que tenha um impacto muito positivo… E também para a Reumatologia em si.
“É uma patologia que afeta sobretudo mulheres (85 a 92%) e os sintomas surgem geralmente entre os 16 e os 40 anos de idade”
Quais os seus objetivos?
Acima de tudo, pretende-se promover os melhores cuidados médicos aos doentes com lúpus e com síndromes reumáticas, mas também fomentar a formação nesta área da Reumatologia (clínica e investigação). Como meios para atingir estes fins, será o Congresso Europeu – espero mais de mil participantes para Portugal -, também a Bolsa de Treino Clínico para Jovens Médicos, que permite estágio de 8 semanas em centros de referência na Europa. É uma iniciativa muito importante, quer para desenvolvimento clínico e de investigação como de criação de rede de contactos. Já estamos na 3.ª edição e o Serviço de Reumatologia de Coimbra (CHUC) é um dos centros que recebe estagiários. Há ainda um workshop avançado em lúpus para médicos que já se dedicam ao lúpus eritematoso sistémico. Já realizámos dois workshops, que são admitem em cada edição apenas 30 participantes, de forma a permitir um formato muito interativo, com a presença de formandos de mais de 20 países em cada edição. Outra iniciativa é o Livro Branco do Lúpus, cuja 1ª edição foi em 2022 como webbook disponível na página da SLEuro.
“O futuro é sempre incerto e infelizmente o tratamento apenas reduz de forma parcial o risco de agudizações”
Qual é a prevalência do lúpus em Portugal?
Os estudos existentes são limitados, contudo estima-se que existam, em Portugal, entre oito e dez mil doentes. É uma patologia que afeta sobretudo mulheres (85 a 92%) e os sintomas surgem geralmente entre os 16 e os 40 anos de idade. Sendo uma doença crónica, tem forte impacto a vários níveis: pessoais, familiares, sociais. Não sendo tratada adequadamente, pode ser extremamente grave.
Quais os desafios no tratamento desta doença?
São essencialmente o diagnóstico e controlo precoces da doença. O ideal é que todos os doentes de lúpus sejam diagnosticados e recebam o melhor tratamento para obter a remissão da doença de forma prolongada e precocemente após a sua manifestação. Numa proporção importante de casos esse objetivo não é alcançado, havendo risco de desenvolver novas manifestações que podem afetar qualquer órgão. Em cada doente, a gravidade pode variar muito no decurso da doença, sendo difícil prever a sua evolução. O futuro é sempre incerto e infelizmente o tratamento apenas reduz de forma parcial o risco de agudizações. Seria muito importante ter um tratamento que permitisse a remissão prolongada e assim impedisse sequelas nos órgãos afetados. Ainda há casos de jovens a morrer por lúpus. Muitos doentes fazem corticosteroides durante muitos anos, o que deve ser evitado sempre que possível, porque põe em causa a sua saúde.
SO
Notícia relacionada