Greve dos médicos começa hoje. Bastonário garante que todos os dias recebe queixas de clínicos

Em entrevista ao SOL, Miguel Guimarães acusa o governo de estar a "poupar na saúde" de modo a melhorar o défice, o que, diz, acaba por "empurrar os doentes" para o privado. Quanto ao desempenho do ministro da Saúde, as palavras são contundentes: "O ministro tem de decidir aquilo que quer fazer, se não vai ficar na história como o ministro que menos fez na área da saúde e o que fez foram asneiras".

O bastonário da Ordem dos Médicos, diz, em entrevista ao semanário SOL, que “não há um dia que não receba denúncias e queixas de médicos, de falta de material, de internatos que não estão a ser feitos nas melhores condições”. Numa altura em que se aproxima uma greve de médicos que vai durar três dias, Miguel Guimarães fala em situações de desinvestimento e falta de manutenção no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Ao longo da entrevista, Miguel Guimarães deixa críticas ao governo. “Esta forma de atuar do Governo, que é igual à do Governo anterior – e só isso mostra que isto não tem a ver com cor política –  revela um problema de política de saúde”. O bastonário garante que a paralisação agendada para dias 8, 9 e 10 de maio é em defesa do SNS e que a contestação generalizada dos médicos não tem a ver com a cor do atual executivo liderado por António Costa. “Se fosse o PSD seria igual”, garante.

O bastonário acusa o governo de estar a “poupar na saúde” de modo a melhorar o défice, o que, diz, acaba por “empurrar os doentes para a medicina privada”. Miguel Guimarães diz que “ao não haver investimento suficiente no SNS, ao não se contratar quem é preciso, torna-se o SNS cada vez mais fraco”. Quanto ao desempenho do ministro da Saúde, as palavras são contundentes: “Acho que o ministro tem de decidir aquilo que quer fazer, se não vai ficar na história como o ministro que menos fez na área da saúde e o que fez, na nossa opinião, foram asneiras”.

“Os profissionais trabalham que nem uns desgraçados, nunca trabalharam tanto”, denuncia o bastonário dos Médicos, acrescentando que se sente uma insatisfação na classe, porque os médicos “sentem que não têm muitas vezes as condições dignas para observar os doentes e lhes darem a melhor resposta. Ou precisar de um material para fazer uma cirurgia e ele simplesmente não existir.”

Perante situações que não estejam reunidas as condições para tratar os doentes, nomeadamente no caso das cirurgias, Miguel Guimarães afirma que os médicos não podem “ter medo de dizer não”. Ao mesmo tempo, defende, deve haver um diálogo com o doente e, por outro lado, uma pressão sobre as administrações hospitalares de modo a resolver o problema. “Se não dizemos nada e vamos usando o adesivo para colar uma peça à outra, ninguém compra nada, fica tudo na mesma”.

Miguel Guimarães garante que as preocupações que tem ouvido dos médicos não se prendem apenas com os “problemas específicos da classe” mas também com “necessidade de defender o SNS, de os concursos para os médicos mais jovens serem mais rápidos, da importância que se deve dar à necessidade de renovação de equipamentos”.

Quando questionado sobre uma das reinvicações dos sindicatos – a diminuição do número máximo de doentes por médico de família de 1900 para 1500 – o bastonário defende, nesta entrevista, a passagem de um maior número de USF a modelo B, uma vez que ” transição pouparia milhões de euros”. Miguel vê com bons olhos a equiparação dos salários dos médicos aos dos juízes mas volta a criticar a decisão do Ministério da Saúde em reconhecer a licenciatura em medicina tradicional chinesa.

Saúde Online

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