Estudo revela que quase 100 mil pessoas vivem com epilepsia em Portugal
Apesar de não terem sido identificados casos de epilepsia não diagnosticados, os investigadores verificaram que 43,7% dos doentes não têm acompanhamento médico, situação que preocupa os especialistas.

Cerca de 100 mil pessoas vivem com epilepsia em Portugal, mais do dobro do que indicavam os dados disponíveis até agora, e quase metade não tem seguimento médico da sua doença neurológica, conclui o estudo epidemiológico EpiPort, divulgado pela Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE).
A investigação, que inquiriu mais de 10 mil pessoas em todo o país, estima uma prevalência de 9,76 casos por 1.000 habitantes, bastante superior aos 4,4 casos identificados, no último estudo realizado há três décadas e restrito à região Norte. “Era um número que se mostrava abaixo dos outros países da Europa e da prevalência global descrita num relatório da Liga Internacional contra a Epilepsia. Parecia que nós tínhamos uma prevalência menor e, de facto, isso não se confirmou. Temos uma prevalência 2,2 vezes maior da epilepsia em Portugal”, explicou à agência Lusa Carla Bentes, presidente cessante da LPCE.
De acordo com o novo estudo, o número total de pessoas com epilepsia no país é de 100.993. Apesar de não terem sido identificados casos não diagnosticados, os investigadores verificaram que 43,7% dos doentes não têm acompanhamento médico, situação que preocupa os especialistas.
Os resultados mostram ainda que 20% dos doentes não têm crises há mais de 10 anos, mas também que muitos estão a tomar múltiplos fármacos, sinal de que poderá existir um número superior ao estimado de casos de epilepsia refratária — uma forma da doença em que as crises persistem apesar de dois ou mais regimes de medicação. “Será que os doentes com epilepsia refratária estão todos a ser seguidos ou, pelo menos, avaliados num dos cinco centros criados com esse objetivo em Portugal? Provavelmente, não”, admitiu Carla Bentes.
Em cerca de um terço dos doentes, a medicação é insuficiente para um controlo adequado das crises. Nestes casos, fala-se em epilepsia refratária ou fármaco-resistente, que exige uma avaliação especializada. A presidente cessante da LPCE defende que os dados agora conhecidos exigem uma reflexão sobre a forma como estes doentes são acompanhados em Portugal: “Temos de repensar a epilepsia e a forma como os doentes são seguidos. Esperamos que este estudo possa contribuir para que sejam tomadas medidas para melhorar o seguimento clínico.”
Carla Bentes sublinha ainda o “impacto enorme” da doença, que afeta não só o doente, mas também o seu contexto familiar, social e profissional, com consequências psicológicas e neurobiológicas relevantes.
A epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por crises súbitas e imprevisíveis causadas por descargas anormais dos neurónios. Estas crises podem durar segundos ou minutos e variar de intensidade e frequência. As causas são diversas — genéticas, metabólicas, autoimunes ou infecciosas — mas permanecem desconhecidas em cerca de um terço dos casos O EpiPort é o primeiro estudo de âmbito nacional sobre a prevalência da epilepsia e contou com a validação de um comité de especialistas dedicados ao diagnóstico e tratamento da doença.
SO/LUSA
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