Entrevista. “É muito mais difícil impedir a espermatogénese do que a ovulação”

A presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção acredita que a contraceção hormonal masculina não estará disponível para breve. Independentemente disso, frisa que “a responsabilidade pela contraceção deve ser sempre partilhada”.

Que balanço faz dos métodos contracetivos masculinos que existem atualmente?

Neste momento, os métodos contracetivos masculinos são dois, o preservativo masculino e a vasectomia. O preservativo masculino, cujo uso é extremamente importante por ser o único método que previne as infeções de transmissão sexual, já existe há muitos anos, tendo surgido até antes da pílula. Segundo o último relatório da Avaliação das práticas contracetivas em Portugal, de 2015, atualmente é o segundo método contracetivo mais utilizado em Portugal, a seguir à pílula combinada ( com estrogénios e progesterona). A vasectomia é um método de contraceção irreversível e, como tal, só deve ser utilizado depois de se perceber quais são os objetivos a nível familiar. Embora seja um método muito utilizado na América Latina, a vasectomia não é tão popular nos países da Europa, nomeadamente na Europa de Sul e em Portugal em particular. Isto acontece sobretudo porque existem alguns mitos associados à vasectomia, como a perceção não comprovada de que a vasectomia provoca alterações na sexualidade masculina, por exemplo, provocando dificuldades de ereção ou diminuindo a potência sexual.  Além destes dois, existe deve referenciar-se o coito interrompido, um método utilizado desde sempre, mas com uma grande taxa de falha. Felizmente, já não é muito utilizado.

O que existe em termos de investigação nesta área?
A investigação desenvolvida na área tem sido em torno da tentativa de impedir hormonalmente a espermatogénese, isto é, a formação de espermatozóides. Já surgiram alguns compostos de testosterona isolada ou em associação com outras hormonas que – sob a forma injetável, pílula, adesivo – bloqueiam com alguma eficácia a formação de espermatozoides, mas têm vários efeitos acessórios pelo que a contraceção masculina continua a originar várias investigações a nível mundial.

Existem estudos sobre como seria recebido um método contracetivo hormonal masculino?

Têm sido desenvolvidos alguns estudos em vários países para perceber como seria encarado por parte das mulheres deixar o papel da contraceção do lado masculino, com resultados muito diferentes. Provavelmente tem a ver com culturas diferentes e com os papéis diferentes desempenhados por homens e mulheres nos diversos tipos de sociedades.

Partilhar a responsabilidade da contraceção tem um efeito positivo?

Sim, sabe-se que, quando os parceiros das mulheres que usam contraceção se mostram interessados e assistem à consulta e partilham da escolha do método contracetivo, a adesão ao uso do método e a respetiva continuação é muito superior do que quando isso não acontece.
Apesar de a maior parte dos métodos contracetivos existentes serem femininos, a responsabilidade pela contraceção é dos dois membros e deve ser sempre partilhada. O facto de, em Portugal, ser a mulher a utilizar o método contracetivo na maior parte das vezes não iliba também a responsabilidade masculina. Como tal, os membros do casal devem ir às consultas de aconselhamento em conjunto para que possam tomar parte da decisão da escolha do método contracetivo.

SS/SO

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