27 Jul, 2022

Entrega da medicação para a Hepatite C chega a demorar meses. “É injusto e uma barreira à eliminação”

Para Guilherme Macedo, parte da explicação para os atrasos está na plataforma utilizada pelos clínicos, “totalmente desajustada do que é necessário para tratar os doentes”.

No que diz respeito ao acesso ao tratamento da Hepatite C, há relatos de atrasos de vários meses na entrega da medicação, que elimina o vírus (na esmagadora maioria dos casos, em algumas semanas) em alguns hospitais do SNS. Nalguns casos, a espera chega a meio ano. Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Guilherme Macedo, o atraso é “totalmente surpreendente e injusto”. “É uma iniquidade, não há nenhuma razão plausível para que haja atrasos no fornecimento da medicação”, critica, sublinhando que este “é um drama que persiste há sete anos”.

Para Guilherme Macedo, parte da explicação para os atrasos está na plataforma utilizada pelos clínicos, “totalmente desajustada do que é necessário para tratar os doentes”. “Isso faz com que haja um atrito muito prolongado, o que resulta em que, entre a consulta e a entrega da medicação ao doente, nalguns hospitais se passem meses”, diz o especialista, acrescentando que, no entender da SPG, a entrega deveria ser feita em poucos minutos, à semelhança do que acontece com outras doenças víricas.

“Neste caso, da Hepatite C, é preciso pedir autorizações à administração, que envia para Lisboa, de modo a haver uma decisão central de autorização de fornecimento de medicação. É inadequado, uma barreira óbvia à eliminação”, realça o também professor catedrático convidado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Para Guilherme Macedo, o problema não se prende com a rapidez do tratamento mas sim com a capacidade de manter o doente dentro do sistema de saúde. “Não podemos estar a pedir às pessoas para virem às consultas e depois não terem a medicação. As pessoas deixam de vir. A medicação tem de estar disponível logo”, sublinha.

Por outro lado, o atraso na entrega da medicação tem impacto na saúde pública. “Só se consegue a eliminação se não houver muita gente à espera da medicação. É uma questão de saúde pública”.

SO

 

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