Encefalopatia Hepática: a perigosa ligação entre o fígado e cérebro
Hepatologista e presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado

Encefalopatia Hepática: a perigosa ligação entre o fígado e cérebro

A cirrose hepática é a fase final de agressões continuadas ao fígado, como por exemplo no consumo regular e continuado de álcool. Contudo, o impacto desta condição é bastante mais abrangente do que parece à primeira vista. Uma das complicações frequentes da doença hepática crónica (cirrose) é conhecida por encefalopatia hepática, que leva à perturbação do funcionamento do cérebro e pode chegar a afetar até 50% destes doentes.

A encefalopatia hepática está relacionada com a inflamação e a lesão do fígado, que por sua vez leva a alterações no sistema nervoso, principalmente pela acumulação de substâncias tóxicas que o fígado não conseguiu eliminar do sangue, pelo seu funcionamento estar comprometido. Esta consequência pode surgir de forma silenciosa e progredir para uma sintomatologia debilitante, que vai impactar a personalidade e comportamento do doente no dia a dia. É possível manifestar-se através de:

  • Desorientação mental;
  • Raciocínio lento;
  • Esquecimentos constantes;
  • Sonolência;
  • Tremores;
  • Problemas na coordenação motora;
  • Perturbações no sono;
  • Coma (nos quadros clínicos mais graves e com prognóstico reservado).

É essencial que seja feito um exame clínico que despiste a causa das alterações neurológicas e se avalie a gravidade da perturbação. Deve haver uma mobilização de esforços por parte do cuidador e profissional de saúde, especialmente nos casos graves em que a fragilidade mental é substancial e muitas vezes negligenciada pelo portador.

Apesar de passarem despercebidos, os sinais de alerta como apatia no discurso, irritabilidade, agressividade e condução de forma perigosa, por parte de doentes hepáticos, devem constituir um motivo para procurar ajuda médica. Os sintomas não devem ser em nenhuma instância ignorados, uma vez que a probabilidade de reversão rápida e definitiva diminui em atuações tardias.

No que diz respeito ao tratamento da encefalopatia hepática, este não é isolado, uma vez que está intimamente interligado com a própria terapêutica das doenças hepáticas. Portanto, o processo que trave a progressão deste tipo de patologias deve ser delineado pelo hepatologista e adaptado às características de cada caso. Os estádios mais avançados normalmente necessitam de medicação.

Ainda assim, é de reforçar que os comportamentos alimentares, nomeadamente a eliminação dos hábitos nocivos, através da adoção de uma dieta equilibrada que reduza o consumo de comida processada, gorduras e bebidas alcoólicas, é uma das recomendações principais, tanto na fase de tratamento, como na prevenção das doenças hepáticas e da sua sintomatologia.

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