Educar, ora pois
Presidente da Olhar – Associação pela Prevenção e Apoio à Saúde Mental e da Laços Eternos – Associação de Apoio a pais e Irmão em Luto/Parceiro direto do projeto Modernamente

Só há uma maneira para educar bem e é através do compromisso. Compromisso como sinónimo de vínculo, ligação entre todos e não só “de” uns “para” outros. É preciso estabelecer um entrelaçamento de guião livre, sem capítulos fixos, onde o apelo para a aprendizagem reflete benefícios e não constrangimentos ou dificuldades.
Educar é conhecer. Adquirir. Acumular. Perceber que o que vem de fora, do exterior, dos outros, é essencial pela própria fluidez e não pela imposição. Educar exige um estado mental democrático muito profundo em conjunto com uma certa anarquia, rebeldia e inconformismo. Ninguém aprende sentado, estático. Forçado a estar. Porque aprender tem o mecanismo de um gerador que está sempre em funcionamento. É uma máquina que exalta pela ação, pela curiosidade e pela aventura.
Não se deve olhar para quem educa como o emissor perfeito e incorrigível. Todo o conhecimento não pode viver num “aqui e agora”, mas sim, num entreposto entre o que já foi e o que está a ser pensado. Só educa bem quem está virado para o futuro. Quem não domina a certeza e autoafirma-se sabedor. Só sabe quem olha para dentro de si e vê o mar gigante de respostas que nunca serão esclarecidas. Mesmo com “exemplos” vindos do passado.
Na generalidade, o ser humano está mais apto a perguntar do que a responder. Perguntar, conduz a um estado de evasão, entorpece e encanta; responder, glorifica a reflexão, a dúvida, o estar implicado. E, não digam que é difícil educar; é mais fácil o contrário. É como transgredir. E a educação que temos é de transgressão. É uma educação de pouca cortesia. Ela impõe-se, não valoriza, não é apelativa. Não traz quase sempre, na veleidade das análises, valor acrescentado. É uma economia estagnada.
No entanto, não há quem não passe o tempo a educar. São os progenitores, familiares, professores, educadores, sociedade em geral, tantos a fazer mais do mesmo, atarefados e verdadeiramente implicados no sucesso das suas intervenções pedagógicas. É uma canseira, e, por que não dizer, um desalento. Para muitos.
Faltam resultados. Ou seja, traduzir em compromissos verdadeiros um que cada um de nós tem para com a sua vida e por aquilo que quer passar às gerações seguintes. Sem ficar retido no seu próprio conhecimento. Tantas vezes volúvel e instável. Porque esta matéria, transmitir educação, é para todos, uma viagem de apeadeiros mutáveis. Nunca saberemos, para bem e mal da humanidade, qual é o destino certo.
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