1 Abr, 2022

“É presumível um aumento da incidência do mieloma múltiplo”

Em Portugal, são registados entre 300 e 500 novos casos por ano. Em entrevista, o médico interno de Hematologia José Guilherme Freitas destaca a importância dos "avanços terapêuticos".

Sabendo-se que os sintomas do mieloma múltiplo são inespecíficos, existe, ainda assim, algum sintoma em particular que deva levar as pessoas a procurarem ajuda médica?

Os sintomas em doentes com mieloma múltiplo não são específicos, podendo aparecer noutras doenças. Os sintomas do mieloma podem incluir: fadiga e falta de força, infeções frequentes, dores nos ossos e perda de peso. Os sintomas dependem do grau de evolução da doença e dos órgãos mais afetados. Estes são alguns dos sinais de alerta: falta de apetite; anemia; níveis elevados de cálcio no sangue; problemas renais; infeções, sobretudo respiratórias; e dores ósseas.

Como tem evoluído a incidência de mieloma múltiplo em Portugal e que evolução se espera nos próximos anos?

Em Portugal, são registados entre 300 e 500 novos casos por ano. Globalmente, representa cerca de 1% de todos os cancros diagnosticados e 15% de todas as doenças malignas hematológicas. Com o aumento da sensibilidade e especificidade dos testes de diagnóstico é presumível um aumento da incidência de mieloma múltiplo.

Quais são os grupos mais afetados pelo mieloma múltiplo?

O mieloma múltiplo é ligeiramente mais frequente no homem e a maioria dos casos acontece em indivíduos entre os 50 e os 70 anos. Abaixo dos 40 anos, a incidência é mais rara, representando apenas 5-10% dos casos.

Qual a importância de diagnosticar precocemente esta doença? Qual a taxa de sobrevivência esperada para estes doentes?

A deteção de formas mais precoces da doença (isto é, gamopatia monoclonal de significado indeterminado ou mieloma múltiplo indolente) permite um seguimento mais apertado dos doentes e tratamento mais atempado de forma a evitar lesão de órgão irreversível. Enquanto que antigamente a sobrevivência esperada dos doentes com mieloma era cerca de 3 anos, atualmente com as formas de tratamentos e o aumento dos fármacos disponíveis, a sobrevivência pode atingir os 10 anos.

Que formas de tratamentos estão disponíveis e qual é a mais utilizada?

Os tratamentos para o mieloma múltiplo podem incluir terapêutica sistémica como é o caso da quimioterapia, imunoterapia, corticóide, radioterapia e transplante de medula óssea.

O tipo de tratamento varia caso a caso, mas geralmente todos os doentes fazem terapêutica sistémica. A maior parte dos doentes abaixo de 65 anos é candidata a transplante de medula óssea. Geralmente o tratamento de primeira linha inclui habitualmente um inibidor do proteassoma – por exemplo bortezomib – associado a um imunomodulador (talidomida ou Lenalidomida) e corticóide. Em alguns casos, após o tratamento inicial é feito autotransplante de medula, seguido de tratamento continuado com medicamentos administrados por via oral.

Os avanços terapêuticos têm sido muito importantes, não só no aumento da esperança média de vida como também nas opções de tratamento, como no caso da recaída ou da não resposta ao tratamento. Existem diversas alternativas de tratamento, designados por tratamento de 2ª ou 3ª linha. Podem ser usados novos medicamentos no tratamento do Mieloma Múltiplo da mesma classe de fármacos referidos, ou um anticorpo monoclonal dirigido contra antigénios da superfície das células do mieloma, como o daratumumab. Em alguns casos estará indicada quimioterapia intensiva seguida de transplante de células estaminais alogénico, se o doente tiver condições de saúde e idade para suportar este tratamento.

SO

Notícia Relacionada

Entrevista: Cura para o mieloma múltiplo pode chegar dentro de poucos anos

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais