17 Jul, 2024

“É importante a criação de pontes entre os centros nacionais que tratam doenças autoimunes”

Carlos Carneiro é o novo coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Ao SaúdeOnline, em entrevista, destaca a importância das pontes entre centros, a promoção da investigação básica neste campo e a interação com a Medicina Geral e Familiar.

“É importante a criação de pontes entre os centros nacionais que tratam doenças autoimunes”

Quais os principais objetivos do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) para o biénio 2024-2026?

Face às alterações que vivemos atualmente, principalmente na área da Medicina, é muito importante a criação de pontes entre os vários centros nacionais que tratam doenças autoimunes (DAI), assim como a diferenciação dos seus profissionais. Estes são os principais objetivos do NEDAI nos próximos dois anos. Não se pode tratar os doentes sem se ser credenciado, sem certificação e sem  se ter todas as habilitações que permitem apoiar e desenvolver investigação básica no campo das DAI. O mesmo se pode dizer quanto à elaboração de estratégias, que contribuam para uma melhoria da qualidade assistencial aos doentes.

 

E por que razão ainda existe essa falha, de não haver certificação?

Não considero que seja uma falha…É necessário ser-se melhor e diferente, criar condições que nos permitem, de forma muito concreta, chegar mais além. E, para tal, é preciso atualização constante e apostar na diferenciação. A sociedade está cada vez mais tecnológica, com acesso fácil a informação, daí que seja essencial a certificação dos profissionais. Mesmo com a tecnologia, o exame objetivo continua a ser o mais importante. Tudo começa no ABC, isto é, a avaliação do doente como um todo. O exame clínico e a história clínica são armas fundamentais. Os meios complementares de diagnóstico, como nos indica o próprio nome, complementam a nossa avaliação.

 

A prevalência das DAI está a aumentar?

Atualmente, existem mais de 200 patologias identificadas como DAI, mas tal não significa que haja mais diagnósticos. O facto de haver mais informação, uma aposta na literacia, quer para doentes quer para profissionais, contribui para isso. Quando se assinala, por exemplo, o dia de uma doença, como lúpus ou esclerose sistémica, chega-se a muitas pessoas que vivem, em silêncio, com determinados sinais e sintomas que ainda não foram bem interpretados. O diagnóstico de uma DAI nunca é fácil, não existe sequer um marcador específico de dada patologias. Mas, o facto de não se desistir de perceber qual a verdadeira origem da sintomatologia vai levar-nos a um diagnóstico mais precoce e à terapêutica mais adequada.

“… o facto de não se desistir de perceber qual a verdadeira origem da sintomatologia vai levar-nos a um diagnóstico mais precoce e à terapêutica mais adequada”

É importante reativar o Registo Nacional de DAI?

Sim, é fundamental, para se perceber qual a realidade nacional. Conhecer o que se passa no terreno, permite-nos atuar consoante aquilo que são as necessidades reais. Além disso, é uma forma de se ter noção do que se pode melhorar. O objetivo é sempre, também, promover a investigação, partilhando-se informação.

 

Quais são outros objetivos que tem para o NEDAI?

Vai ser publicado o Guia do Imunologista, de bolso, para todos os profissionais que fazem consulta nesta área. É um guia de fácil acesso, mas que não deve substituir, de alguma forma, a avaliação clínica de cada profissional; mas sim, ajudar. Vivemos em realidades diferentes, em pequenos ou grandes centros, no litoral ou no interior, em hospitais mais ou menos diferenciados… mas nunca deixamos de ver doentes. Será um apoio, que contribuirá para um diagnóstico mais precoce, com referenciação para um centro mais diferenciado. Por fim, mas não menos importante, é a promoção do apoio à investigação básica. Fala-se muito de consultas, mas o médico deve sê-lo no seu todo, ou seja, tem de tratar a patologia, mas também investigar.

Acrescento, ainda, a comunicação interpares. Se não se falar uns com os outros, não é possível divulgar as atividades nem melhorar a qualidade assistencial de doenças que são, muitas vezes, heterogéneas. Partilha e discussão de casos clínicos ajudam-nos a conhecer as diferentes formas de manifestação de uma DAI. A formação e a partilha deve ocorrer quer entre centros quer com os especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF), porque são eles que são, regra geral, a primeira linha de acesso dos doentes.

MJG

 

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