27 Jan, 2023

Devem os lares ter médicos em permanência? Vigilância regular aliviaria as urgências

Se há uma complicação, o doente vai para a urgência, “sobrecarregando-a com problemas que poderiam ser resolvidos no lar”, diz o presidente da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados, João Gorjão Clara.

O presidente da associação dos médicos dos idosos que estão nos lares defendeu a necessidade de ter clínicos em permanência nestas estruturas, para garantir uma vigilância e assistência regular, evitando muitas vezes o transporte para a urgência.

“Concordo que os lares não são hospitais, mas é indiscutível que mais de metade dos idosos internados nos lares são doentes e têm de ter vigilância e assistência regular”, disse João Gorjão Clara, que preside à Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados (AMIDI).

O responsável, que é especialista em Medicina Interna, lembrou que muitos destes idosos que vão para os lares têm várias doenças e levam já medicação, que muitas vezes não é ajustada com a devida regularidade. O médico defendeu que os médicos que prestam assistência aos utentes dos lares deviam ter formação específica.

“Muitos, quando chegam aos lares, levam medicação que já tomavam, que é perpetuada e muitas vezes não é reacertada em função da evolução clínica ou, se o é, é de forma pouco regular”, afirmou.

“Há lares que nunca têm médico, e aí presumo que a medicação não seja ajustada, noutros o médico vai uma vez por semana e noutros duas vezes”, explicou, sublinhando: “isso não cobre as necessidades dos doentes idosos que estão nas ERPI [Estruturas Residenciais Para Idosos]”.

Mais de 100.000 idosos vivem nos cerca de 3.500 lares existentes em Portugal, entre lucrativos, setor social e não legalizados.

Tem de ser garantida a estas pessoas a assistência permanente”, defendeu Gorjão Clara, lembrando que tantos nos Estados Unidos da América como na Europa “existe esta preocupação” e dando o exemplo de Espanha, onde além da obrigatoriedade de médico em permanência nos lares há um rácio de clínicos por doentes nestas estruturas.

Em Portugal, “se há uma complicação, e se o médico não está disponível, o doente vai para a urgência, sobrecarregando ainda mais as urgências, com problemas que poderiam ser resolvidos no local se houvesse médico em permanência”, considerou.

A Associação de Médicos dos Idosos Institucionalizados, lançada no ano passado e que pretende dar formação aos médicos que acompanham os idosos que estão em lares, vai realizar no sábado a sua primeira reunião, onde pretendem transmitir recomendações para melhorar a assistência aos idosos que estão nas ERPI.

Neste encontro vão participar não só os associados, mas alguns convidados, inclusive o médico francês Yves Gineste, que vem falar do conceito de humanitude: uma maneira própria de tratar doentes com défices cognitivos graves.

“Trata-se de uma estratégia para tratar estas pessoas, resolvendo os problemas de conflito que muitas vezes têm com os seus cuidadores, como o facto de não quererem tomar a medicação ou tomar banho”, explicou Gorjão Clara, adiantando quer na reunião vai ser mostrado um vídeo com uma mensagem enviada pelo Presidente da República.

Lusa

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