
Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica e bolseira de Doutoramento na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E), da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC)
Cuidados de Enfermagem Pós-anestésicos: Reflexões sobre Autonomia e Competência
No cenário complexo e desafiador da recuperação pós-anestésica, os enfermeiros desempenham um papel crucial na garantia da qualidade e segurança dos cuidados. Desde os primórdios da criação das Unidades de Cuidados Pós-Anestésicos (UCPA) até aos dias atuais, os enfermeiros têm sido os pilares fundamentais nesse processo, oferecendo uma resposta proficiente e intencional às necessidades da pessoa em situação perioperatória. É imperativo reconhecer que os cuidados de enfermagem vão além da mera execução de tarefas: envolvem uma prática interdisciplinar e centrada na pessoa, que visa não apenas tratar os sintomas físicos, mas também fornecer apoio emocional e promover o bem-estar geral de quem cuidamos, não esquecendo o contributo para com a família.
Estas competências englobam não apenas o domínio de conhecimentos técnicos e científicos, mas também habilidades socioemocionais, éticas e de tomada de decisão. A autonomia da enfermagem é essencial para o desenvolvimento de modelos de cuidados estruturados e eficazes, capazes de lidar com a imprevisibilidade das alterações clínicas e garantir uma transição de cuidados segura.
Assim, a tomada de decisão do enfermeiro desempenha um papel fundamental na gestão dos cuidados pós-anestésicos. Modelos explicativos, tanto normativos quanto descritivos, podem fornecer estruturas úteis para orientar a prática clínica, mas é importante reconhecer que a tomada de decisão é um processo complexo e dinâmico, influenciado por uma variedade de fatores contextuais.
Reconhece-se que a enfermagem transcende as fronteiras de uma única disciplina, incorporando elementos da Psicologia, Medicina e outras áreas afins. Esta perspetiva enriquece a compreensão dos cuidados de enfermagem como um todo integrado, centrado na pessoa e fundamentado numa base ontológica específica. Os enfermeiros devem ser capazes de adaptar as suas práticas aos contextos específicos e às necessidades individuais da pessoa/família, promovendo as intervenções de enfermagem com ênfase no conhecimento e na autonomia dos cuidados de enfermagem. É impreterível capacitar e encorajar os enfermeiros para a tomada de decisão autónoma, refletida na capacidade dos enfermeiros de reconhecer e lidar com a complexidade dos cuidados e promovendo uma abordagem integrada.
A prática de enfermagem na UCPA enfatiza muitas vezes a dimensão técnico-científica, mas torna-se importante não perder de vista a importância da compreensão dos saberes de enfermagem e a identificação do sentido de cuidar para o desenvolvimento de uma prática baseada em evidência e centrada na pessoa. Os enfermeiros devem ser capazes de articular os conhecimentos teóricos com as experiências da praxis, promovendo uma abordagem reflexiva e autocrítica aos cuidados de enfermagem.
Neste contexto, é crucial que a enfermagem seja reconhecida com(o) um campo autónomo de saber e intervenção. Os enfermeiros devem ser capacitados e valorizados como profissionais especializados na prestação de cuidados perioperatórios, que vão além da mera tarefa técnica. A estruturação dos processos de alta pós-anestésica, a implementação de protocolos padronizados e a promoção de uma abordagem colaborativa e multidisciplinar são passos essenciais para garantir a segurança e eficácia dos cuidados.
É hora de reconhecer o papel fundamental dos enfermeiros nesse processo e investir na sua capacitação e desenvolvimento profissional. Somente assim poderemos garantir uma enfermagem perioperatória de qualidade.
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