20 Nov, 2025

Casos de anafilaxia aumentam em Portugal, mas falta de conhecimento continua elevada

O vice-presidente da Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica alertou que os episódios de anafilaxia têm vindo a crescer em Portugal, sobretudo entre crianças, enquanto o desconhecimento sobre esta reação alérgica potencialmente fatal permanece significativo.

Casos de anafilaxia aumentam em Portugal, mas falta de conhecimento continua elevada

Os casos de anafilaxia estão a aumentar em Portugal, especialmente em crianças, mas o desconhecimento sobre esta reação alérgica grave continua a ser expressivo, alertou André Moreira, vice-presidente da Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI).

“É muito importante que o país assuma isto como um problema de saúde pública. Em todos os países da Europa existem programas nacionais de alergia. Portugal está um bocadinho desfasado e um bocadinho atrasado. Temos legislação especificamente para as escolas, mas que tarda em ser cumprida”, afirmou o especialista, que é também professor de Imunoalergologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Em declarações à Lusa, no âmbito do Dia Mundial da Anafilaxia, que se assinala na sexta-feira, André Moreira recordou que, na União Europeia, as idas à urgência por anafilaxia quadruplicaram nos últimos 20 anos em situações alérgicas graves e potencialmente fatais, embora a perceção pública do problema permaneça baixa.

A anafilaxia é uma reação sistémica potencialmente fatal, que pode afetar vários órgãos e exige intervenção médica imediata. Pode ser desencadeada por alergénios como alimentos — ovos, leite, frutos secos, marisco —, picadas de insetos, medicamentos ou látex, afetando cerca de 1% a 2% da população mundial.

“Quando somos expostos a um alérgeno, o nosso sistema imunológico pode reagir de forma exagerada, libertando grandes quantidades de substâncias químicas, como a histamina, que desencadeiam uma série de sintomas”, explicou o especialista. Entre estes sintomas podem surgir dificuldade respiratória, queda súbita da pressão arterial e choque.

André Moreira sublinhou que esta é uma doença que pode atingir qualquer pessoa, a qualquer momento, mas que o reconhecimento precoce, a prevenção e a preparação adequada podem salvar vidas.

Segundo o especialista, Portugal segue a tendência europeia no aumento das doenças alérgicas, mas com algum atraso. “No Reino Unido, numa turma de meninos de 10 anos, existe uma criança com risco de anafilaxia por alergia alimentar. Em Portugal, estamos a falar de uma criança em cada seis a sete turmas, mas sabemos que daqui a 10 anos o panorama será completamente diferente”, apontou.

Atualmente não existem fármacos específicos para tratar a anafilaxia e apenas recentemente esta condição passou a ser codificada. O tratamento imediato com adrenalina continua a ser a medida mais eficaz para evitar complicações graves ou morte.

A FMUP refere, em comunicado enviado à Lusa, que estudos internacionais indicam que apenas cerca de um terço dos doentes recebe adrenalina administrada por profissionais de saúde, sendo ainda mais reduzida a utilização de autoinjetores por não profissionais. Muitos doentes que deveriam ter adrenalina autoinjetável não a possuem ou não a utilizam no momento crítico, o que evidencia a necessidade de melhorar a literacia em saúde.

Por isso, André Moreira reforça a importância da prevenção e da informação, salientando que não são os doentes nem as suas famílias quem mais necessita de sensibilização, já que estes costumam ser extremamente cuidadosos. As maiores falhas surgem em ambientes escolares e de restauração.

“A alergia mais comum é aos frutos de casca rija, frutos secos. Aproximamo-nos agora de uma altura crítica, as festas de Natal. Percebe-se imediatamente o pânico que é para uma família uma festa de Natal na escola ou uma visita a casa de amigos, porque inadvertidamente a criança pode ter contacto”, exemplificou.

O especialista lembrou também riscos associados a outras situações quotidianas, como beijos entre adolescentes ou adultos, quando o parceiro consumiu alimentos aos quais o outro é alérgico.

O Dia Mundial da Anafilaxia, criado pela EAACI no ano passado, será assinalado pela primeira vez em Portugal com a estreia internacional do documentário “Triggered: The Reality of Anaphylaxis” e um momento de partilha com especialistas europeus, na sexta-feira, às 10:00, na FMUP.

LUSA/SO

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