Canabinoides – como quebrar barreiras para aumentar o acesso do fármaco certo ao respetivo doente?
Especialista em Medicina Geral e Familiar/ Assistente Convidado, Escola de Medicina, Un. Minho/Pós-Graduado, Tratamento de Dor/ Diretor Executivo, Centro de Medicina Digital P5, Un. Minho/ Coordenador, Grupo de Estudos de Dor, APMGF/Conselho Consultivo Científico da OPCM

Canabinoides – como quebrar barreiras para aumentar o acesso do fármaco certo ao respetivo doente?

A dor crónica e o seu tratamento com terapêutica à base da planta de canábis são assuntos que têm estado na ordem do dia e que têm merecido atenção por parte da população em geral, mas sobretudo pelos profissionais de saúde.

Em Portugal, a dor crónica afeta 1 em cada 3 portugueses adultos, tendo um impacto muito significativo, tanto na qualidade de vida, como no absentismo laboral. Classicamente, a dor crónica dura pelo menos três meses, mesmo que não seja diária. Este tipo de dor tem de ser tratado com uma abordagem, normalmente, multifatorial, sendo que as terapêuticas clássicas nem sempre são eficazes para um alívio significativo, uma vez que muitos doentes continuam com dor, por vezes, incapacitante e com grande limitação a nível do seu bem-estar.

É nestes casos que se coloca a questão das novas classes terapêuticas que têm vindo a surgir, sendo os canabinoides uma das mais importantes. Em Portugal, neste momento, há já medicamentos derivados da planta de canábis, aprovados para a dor crónica, assim como para outras indicações.

Apesar de nova em Portugal, esta classe terapêutica já tem muitos anos em outros países, tendo os seus profissionais de saúde bastante experiência no que respeita à sua prescrição. Também os estudos indicam que há lugar para esta classe terapêutica no caso das pessoas com dor crónica, que não respondem às terapêuticas clássicas. Ou seja, os canabinoides vêm oferecer uma nova esperança às pessoas com dor crónica, que não têm tido os resultados desejados com os tratamentos convencionais.

Muitos foram os medos que, inicialmente, se colocaram no que respeita à prescrição de produtos de canábis medicinal para tratamento da dor. Contudo, é de salientar que os fármacos aprovados pelo Infarmed, de prescrição médica, são seguros. No entanto, alerto para o perigo das substâncias não reguladas, compradas por exemplo online, em que não há como garantir nem a qualidade, nem a segurança, nem a eficácia do produto.

É por isso fundamental adotar guias de orientação precisas e que permitam aos médicos escolher o fármaco certo para o “doente certo”. Nesse sentido, o Grupo de Estudos de Dor da APMGF tem, em fase final de elaboração, um documento que visa fornecer orientações para a seleção dos doentes e do tipo de canabinoide para as diferentes indicações. Pensamos que será um primeiro passo para criar mais à vontade com a gestão desta nova classe terapêutica por parte dos médicos.

Será também importante divulgar junto dos doentes qual o papel que este tipo de fármaco pode ter e em que situações, de forma a desmistificar eventuais ideias preconcebidas sobre os mesmos.

Neste momento, em Portugal, todos os médicos podem prescrever canabinoides para a dor crónica. No entanto, tendo em conta a particularidade do seu tratamento, o doente deverá ser sempre acompanhado pelo seu médico de família, ou pelo especialista em dor pelo qual está a ser seguido.

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