20 Mar, 2025

Apenas metade dos imigrantes inscritos nos centros de saúde tem médico de família

Apenas um em cada dois imigrantes inscritos nos cuidados primários tinha médico de família em 2023, com a maioria dos centros de saúde a registarem uma procura crescente por consultas de doença aguda e cuidados materno-infantis.

Apenas metade dos imigrantes inscritos nos centros de saúde tem médico de família

Os dados constam de um estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre o acesso de imigrantes aos cuidados de saúde primários (CSP), hoje divulgado, e que concluiu que, nos últimos três anos, 88,8% das unidades registaram um aumento na procura.

Segundo o regulador, entre os mais de 844 mil imigrantes inscritos nos CSP em 2023, apenas cerca de 419 mil (49,7%) tinham médico de família atribuído, uma taxa consideravelmente inferior aos 83,5% de todos os utentes inscritos a nível nacional.

De acordo com o estudo, que excluiu desta análise situações específicas, como o acesso por turistas ou cobertas por acordos internacionais, as consultas médicas a utentes imigrantes representaram 6,5% do total de consultas dos cuidados primários e os atos de enfermagem prestados a imigrantes corresponderam a 7,6% do total realizados nos CSP.

As consultas devido a casos de doença aguda e os cuidados materno-infantis são os cuidados de saúde mais procurados e foram considerados, como muito frequentes, por 51,9% e 49,2% das unidades funcionais (UF) dos cuidados primários.

De acordo com a ERS, a maioria das unidades identificou diferenças significativas na procura entre imigrantes em situação regular e irregular, com a inscrição nos CSP (82,6%) e a atribuição de médico de família (76,5%) a serem os principais fatores que contribuem para essas diferenças.

As UF referiram ainda que os principais obstáculos que os imigrantes enfrentam no acesso a cuidados de saúde incluem os relacionados com questões legais (89,9%), barreiras linguísticas (63,8%) e constrangimentos administrativos (48,8%).

No caso dos imigrantes em situação regular, destacaram os constrangimentos associados ao registo nos sistemas de informação (59,2%), seguido da insuficiência ou dispersão de orientações sobre enquadramento normativo e regras em vigor (52,5%).

Já no caso dos imigrantes em situação irregular, os principais constrangimentos identificados pelos prestadores foram a falta de documentação por parte do cidadão (85,7%) e as dificuldades associadas ao registo nos sistemas de informação (63,8%).

A ERS justificou a sua decisão de centrar a análise nos CSP com a sua importância para o acesso a cuidados de saúde mais especializados, mas também com a indisponibilidade de dados completos e estabilizados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que permitam retratar com exatidão a procura de cuidados de saúde hospitalares nos últimos anos.

Perante estas conclusões, a ERS reiterou a recomendação já emitida à ACSS, para uma efetiva melhoria no registo, tratamento e monitorização dos dados e informações sobre cada um dos cidadãos estrangeiros que acede aos cuidados de saúde no SNS.

A ERS avançou também com um projeto de recomendação às Unidades Locais de Saúde, que estará em consulta pública até 6 de maio, com o objetivo de garantir o correto registo no Registo Nacional de Utentes (RNU) dos cidadãos estrangeiros e, consequentemente, o respeito pelo seu direito de acesso a cuidados de saúde.

Entre 2018 e 2020, a ERS instaurou e concluiu 10 processos de inquérito relacionados com dificuldades no acesso a cuidados de saúde por parte de imigrantes.

O regulador assegurou, ainda, que continuará a acompanhar o acesso a cuidados de saúde por cidadãos estrangeiros ao SNS, considerando o impacto das alterações legislativas previstas para 2025.

De acordo com os dados remetidos pela ACSS à ERS, em 31 de dezembro de 2023 existiam 1.785.490 utentes registados no RNU com nacionalidade estrangeira, um aumento de cerca de 19% face a 2022, uma tendência que se tem vindo a registar desde 2020.

LUSA

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