Um ano a acabar ou passos perdidos?
Médico de família

Um ano a acabar ou passos perdidos?

O ano de 2025 a escoar-se para o seu final, marca o termo do primeiro quartel do século XXI e quiçá, de uma época em que a inteligência natural declina por justaposição da outra, dita artificial!

E a escolha dos norte-americanos com a eleição de Trump constitui-se, entretanto como um anátema para a Humanidade.

Também como um castigo para o Mundo Livre, um atentado aos valores tradicionais de Liberdade e de Solidariedade e uma vergonha, agora ou mais tarde, para os eleitores republicanos norte-americanos que naquele votaram, bem como para os democratas que, em tempo útil, não souberam planear nem prever o inevitável envelhecimento de Biden.

Como escreveu Alejo Carpentier no seu livro “Os Passos Perdidos” (1953), “aquilo a que chamavam o Novo Mundo” era apenas “um hemisfério sem história”, “povoado pelas escórias das grandes nações europeias” …

Parece que Carpentier, um dos criadores do Realismo Mágico e grande inspirador para Gabriel García Márquez e outros escritores latino-americanos, suíço de nascimento, tinha mesmo razão há mais d70 anos atrás…

Mas como se a desgraça já não fosse bastante, o Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos é Robert Francis Kennedy Jr., um homem ignorante e por isso negacionista, capaz e autorizado a definir as maiores barbaridades para as gerações vindouras, na transmissão de doenças infecciosas e na paralisia que está a gerar na investigação científica de ponta.

É certo que a Europa afrouxou os seus mecanismos de auto-defesa, embrenhada em dúvidas intestinas adensadas com a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia.

E não terá aproveitado bem o tempo de segurança e protecção que o outro lado do Atlântico lhe proporcionava.

A União Europeia, segundo Mário Draghi, carece necessariamente de definição em diversas dimensões estratégicas.

A transversalidade das intervenções evidencia a tarefa árdua que se impõe e que, as burocracias das instituições europeias e dos países que a corporizam, entravam sempre.

Desde logo, pela falta de estabilidade política no continente europeu, o que contraria e dificulta planeamento e investimentos a médio e longo prazo.

Draghi que foi o presidente do Banco Central Europeu de 2011 a 2019, elaborou o documento conhecido como Relatório Draghi, em 2024, abordando a competitividade europeia e o futuro da União Europeia e enunciando medidas concretas a implementar.

Na parte da saúde, a sua adopção e eventual concretização poderia aproveitar e cavalgar a onda de anormalidade e autocracia que, ameaçando e perseguindo as escolas e professores e cientistas, no lado norte-americano, está já a fazer sair do país de Trump muitos médicos, cientistas, investigadores e académicos.

Um dos pilares propostos passa por procurar concentrar o investimento público em investigação e desenvolvimento, contrariando e potenciando a actual pulverização e fragmentação.

Outro, é procurar dar um salto sobre as múltiplas regulamentações nacionais, diferentes e heterogéneas, cuja consequência mais evidente é a lentidão na apreciação dos processos e das aprovações, nomeadamente na área farmacêutica e das tecnologias de saúde e das correspondentes decisões de aprovações.

Obviamente uma simplificação e desburocratização dos procedimentos relacionados com os ensaios clínicos, por exemplo, para além dos recursos aportados, permite o envolvimento e valorização de profissionais e instituições, quer na vertente assistencial, quer na do próprio ensino universitário.

É tempo de a Europa ouvir as vozes de quem não vê futuro ou dos que, no presente, podem fazer a Mudança.

O autor escreve de acordo com o A.A.O

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